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Exclusivo

“Vai Carlos, ser gauche na vida!”

Luis Eduardo Souza Costa


“Vai Carlos, ser gauche na vida!”.

O verso famoso de Carlos Drummond de Andrade se aplicaria perfeitamente à trajetória de José Carlos de Amaral Kfouri. Juca, desde sempre.

Formado em Ciências Sociais na USP, Juca Kfouri levou para o jornalismo a mesma inquietação que demonstrou na militância política, desempenhada durante o auge da Ditadura militar, no fim dos anos 60. Por sua postura crítica e independente, arrebanhou inimigos, mas também conquistou uma legião de admiradores, que o tomam como referência na imprensa esportiva. Por esses e outros motivos, segue na luta: “Tenho filhos e netas para olhar nos olhos. Não dá para desistir.”





1. Faltando cerca de dois anos e meio para a Copa de 2014, há, por parte de alguns setores, certo temor de que o evento seja um marco de uma era de elitização do futebol, com as classes populares cada vez mais afastadas dos estádios. Você compartilha dessa visão?

Não apenas compartilho. Infelizmente tenho certeza de que é isso que acontecerá.

2. Como você classificaria atualmente a Copa e as Olimpíadas? Ainda são essencialmente eventos esportivos ou iniciativas empresariais que utilizam o esporte como adereço?

São grandes eventos do capitalismo globalizado.

3. Durante a gestão de Pelé no Ministério dos Esportes, você participou do Conselho Nacional de Esportes, órgão ligado diretamente ao Ministro. Que lição você tirou dessa experiência?

Quase nada, porque fiquei menos de seis meses. Mas deu para perceber que o mundo dos cartolas é tremendamente reacionário, avesso a qualquer mudança, mantenedor de privilégios.

4. Você foi militante de esquerda e cursou Ciências Sociais na USP durante o auge da ditadura militar. Nessa época, para muitos opositores do regime, o futebol era visto como um instrumento de alienação das massas. Experimentou algum tipo de conflito entre a paixão pelo esporte e as suas convicções políticas?


Conflito íntimo, não, porque jamais permiti que a ditadura me roubasse também os sentimentos. Discussões com colegas houve inúmeras.

5. Quando dirigia Placar, você investiu em uma cobertura esportiva diferenciada, focada em grande parte no jornalismo investigativo. Acha que deixou um legado? Em quais veículos ou profissionais você enxerga esse tipo de postura?

Seria pretensioso falar em legado. E nem quero particularizar ou fulanizar. Mas a Folha de S.Paulo, por exemplo, segue por esse caminho há anos. A ESPN-Brasil também.

6. Além de Placar, sua passagem pela Editora Abril também foi marcada pelo trabalho à frente de Playboy. Como foi chefiar duas publicações de grande repercussão, porém de perfis tão distintos?

Foi uma deliciosa experiência entre as peladas...

7. Semanalmente, no programa Linha de Passe, você escolhe os gols da semana. Qual foi o grande gol de Juca Kfouri? As matérias sobre a Máfia da Loteria Esportiva ? Sobre o doping de Mário Sérgio? A descoberta da identidade de Carlos Zéfiro?

Zéfiro, disparado!

8. Você sempre assumiu ser torcedor do Corinthians. Por que esse tipo de atitude, de declarar o clube de preferência, ainda é um tabu entre os jornalistas esportivos?

Pelo medo de violência nos estádios, o que não acontecia quando comecei.

9. Um de seus mais recentes livros é intitulado “Por que não desisto”. Você foi processado inúmeras vezes, além de ter sofrido pressões de toda ordem em função de sua independência. Já pensou algum momento em desistir?

Jamais. Tenho filhos e netas para olhar nos olhos. Tenho amigos. E leitores. E ouvintes e telespectadores. E espelho. Não dá para desistir.

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Literatura

“Com efeito, é possível falar-se não em cristianismo, mas em cristianismos.”

Luis Eduardo Souza Costa


A afirmação do pesquisador Lair Amaro dos Santos Faria, mestre em História, professor da UFRJ e autor do livro “‘Quem vos ouve, ouve a mim’ – Oralidade e Memória nos Cristianismos Originários (Ed. Klíne) “, expõe uma questão interessante a respeito da Bíblia: o livro sagrado, em muitos aspectos, contêm passagens que foram coletadas da tradição oral, que, por sua vez, sobrevivia à custa da memória de seus multiplicadores. Portanto, até que ponto os fatos narrados na Bíblia são historicamente válidos? A vida e as palavras de Jesus correspondem de fato ao que está escrito ou foi ajustada em nome de uma visão predominante do Cristianismo, em detrimento de outras correntes? Essas e outras questões são tratadas pelo Professor Lair em entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando.





1. Muitos estudiosos têm adotado uma postura crítica sobre os relatos (supostamente) históricos contidos na Bíblia. Dentro dessa lógica, seria lícito supor que nem todos os livros bíblicos foram de fato escritos por aqueles que os nomeiam?

No que tange à autoria dos textos que compõem a Bíblia cristã (Antigo e Novo Testamentos), cumpre frisar que não há mais espaço para “suposições”. Existem poucas provas reais das tradicionais atribuições de autoria e, por outro lado, inúmeras evidências de que muitas dessas atribuições estão erradas. Isso não é fruto de um pensamento meramente destrutivo, mas conseqüência de análises embasadas por anos de estudos. O chamado Novo Testamento contém 27 livros e, segundo a maioria dos especialistas, apenas oito certamente podem ser considerados escritos pelo autor que o nomeia: as sete epístolas de Paulo (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon) e o Apocalipse de João (ressalvando-se que esse João não se trata do mesmo autor do evangelho e das epístolas que carregam o nome). Os outros 19 livros podem ser subdivididos em três categorias: (a) textos erradamente atribuídos, isto é, atribuições equivocadas de autoria como os evangelhos, Ato dos Apóstolos e a Epístola aos Hebreus; (b) textos homônimos, ou seja, livros cujo autor tem nome idêntico a alguém famoso, como, por exemplo, as epístolas ditas católicas ou universais que trazem os nomes de Tiago, Judas, Pedro; (c) textos pseudepigráficos, quer dizer, escritos assinados com nomes de pessoas que não o escreveram. Trata-se de uma fraude intencional, muito comum na Antiguidade, e, dentre eles, inclua-se as outras cartas de Paulo não mencionadas acima (Efésios, Colossenses, Timóteo, Tito e 2 Tessalonicenses).


2. Acredita-se que a maioria dos evangelhos tenham sido escritos muito tempo depois dos fatos narrados. Até que ponto a recuperação desses relatos, baseados na tradição oral, e, portanto, sujeita a distorções e omissões, permitem fazer da Bíblia uma fonte fidedigna para recompormos, por exemplo, a vida de Jesus?

A pesquisa acadêmica acerca da vida de Jesus de Nazaré vem demonstrando que vários elementos precisam ser levados em consideração antes que se afirme, peremptoriamente, que essa ou aquela fala ou ações atribuídas a Jesus ou aos personagens que giram em torno de sua carreira pública constituem o registro fiel do passado. Os textos neotestamentários possuem “camadas”, ou seja, evangelhos como o de João, por exemplo, têm partes escritas em momentos distintos e que foram agregadas com o decorrer do tempo visando responder a certas críticas que emergiam ou para ajustar e negociar o passado com o presente das comunidades que elaboraram esses livros. O decano dos estudos neotestamentários, o falecido Raymond E. Brown, afirmava que uma parte ínfima dos evangelhos remonta à época de Jesus e que a maior parte do que se encontra escrito nesses evangelhos reflete a situação, os questionamentos, as lutas, as incertezas, as esperanças dos autores dos textos. Cumpre observar, por exemplo, que os seguidores de Jesus que permaneceram ligados ao seu projeto depois de sua execução sumária pelas autoridades romanas certamente passaram por experiências que ele próprio não precisou passar. Não há evidências de que Jesus de Nazaré foi defrontado com a questão da admissão de não-judeus ao seu movimento, mas abundam indícios que a expansão dos grupos para além das fronteiras da Palestina romana forçosamente exigiu ressignificações expressivas de seus ditos e, mais que isso, a criação de falas novas que dessem conta do momento. Com efeito, várias dessas falas construídas ao longo dos anos que se seguiram à sua morte foram incorporadas ao conjunto de memórias e autenticadas como provenientes de Jesus de Nazaré. O esforço dos pesquisadores concentra-se em filtrar esses ditos e, por meio de uma metodologia adequada, distinguir o que provavelmente ele disse e fez do que dificilmente ele disse e fez.



3. O fato de o Novo Testamento afirmar que Jesus nasceu em Belém (contra algumas evidências de que seria natural de Nazaré) pode ter relação com as antigas profecias que indicavam que dessa cidade viria o salvador?

Gostaria de fazer uma pequena ressalva antes de tratar diretamente da questão proposta. O chamado “Novo Testamento” é composto de 27 “livros” e desses, apenas dois descrevem as circunstâncias em torno da natividade de Jesus. Portanto, minha ressalva seria no sentido de apontar que não é o Novo Testamento que afirma isso ou aquilo a respeito de Jesus, mas esse ou aquele livro que certos indivíduos, em dado momento histórico, resolveram que deveria ser parte integrante do “Novo Testamento”.

Feita a ressalva, cumpre sublinhar que havia uma forte preocupação em certos círculos de seguidores do movimento de Jesus – que ainda não podemos chamar de “cristãos” – em justificar para si a escolha que fizeram. Que escolha é essa de que estamos falando? A opção por acreditar e defender que Jesus de Nazaré era um caminho viável para Deus. Além disso, também existia a necessidade de oferecer uma justificativa persuasiva aos que não estavam convencidos de que Jesus era aquele que “cumpria as profecias”. Por conseguinte, à proporção que há livros canônicos (evangelhos de Marcos e de João, as epístolas católicas, por exemplo) e livros não-canônicos (Evangelho de Tomé) que nada comentam sobre o local de nascimento de Jesus, podemos postular que essa foi uma questão pontual que emergiu em momentos e em grupos específicos.

Esses grupos, portanto, precisavam legitimar sua nova opção. Um dos meios encontrados foi buscar nas Escrituras profecias que se ajustassem às suas necessidades apologéticas. Mais do que ajustar-se, algumas profecias foram “ajustadas” para dar a impressão que realmente faziam alusão a Jesus. O nascimento em Belém é, definitivamente, um desses casos.

Se pensarmos equilibradamente, convém perguntar: quantas crianças nasciam por ano em Belém? Se analisarmos friamente os textos do Novo Testamento, podemos indagar: se era um fato o nascimento de Jesus em Belém, quantas vezes, ao longo de sua carreira pública, esse dado foi usado como elemento atestador de sua condição como “salvador”? Vejam o que está escrito em João 1:45-49.


4. Uma questão relevante sobre o Novo Testamento é que boa parte foi escrita sob o impacto da destruição do Templo de Jerusalém, ocorrido em 70 DC, por ordem do Imperador Vespesiano. Na sua opinião, qual a importância desse fato, e do espírito de ódio aos romanos que se seguiu, na composição dos livros?

O fato foi importante à medida que as comunidades fundadas em torno da memória e da crença em Jesus como o messias eram constituídas de judeus e de judias. Implica dizer, em maior ou menor grau, o Templo de Jerusalém tinha uma centralidade na vida deles. Era, para muitos, a morada de Deus na Terra. Sua destruição representou um forte baque em suas certezas. Os historiadores aventam que muitos, ao verem a ruína do Templo, devem ter duvidado que Jesus teria sido realmente o messias e tiveram sua fé posta à prova. Nesse sentido, suas concepções precisaram ser retrabalhadas à luz dos acontecimentos. Se a morte de Jesus por crucificação foi traumática, a queda do Templo foi outra grande decepção para eles. Segundo a visão que se tinha na época, quando um Templo era destruído, significava que o Deus daquela construção já não mais vivia ali. De alguma maneira, ver ou tomar conhecimento da queda do Templo impactou fortemente todos os judeus que tinham algum tipo de vínculo com aquela instituição judaica.


5. O senhor acredita que os evangelhos excluídos pela Igreja durante a edição do Novo Testamento, na Idade Média, possam nos trazer alguma novidade sobre a interpretação dos relatos bíblicos?

Cada texto precisa ser analisado com bastante atenção e rigor metodológico. O aspecto mais relevante, em minha opinião, é que eles atestam a pluralidade de interpretações desenvolvidas nas primeiras décadas após a morte de Jesus. Essa seria a maior novidade. O cenário dentro do qual formou-se o cristianismo revelou-se diversificado e não necessariamente harmônico. Com efeito, é possível falar-se não em cristianismo, mas em cristianismos. Cristianismos que, sob certos aspectos, rivalizavam entre si. Essa é outra novidade que não pode ser ignorada.
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Música

O Centenário de Assis Valente


A dita grande mídia deixou passar em branco. Talvez ela nem o conheça. No entanto, uma obra tão importante não pode passar despercebida. Este ano, comemora-se o centenário de Assis Valente, um dos maiores compositores da história de nossa música.




Provavelmente, você não esteja associando-o à música. Mas garanto que já ouviu e cantarolou versos como “Eu pensei que fosse filho de Papai Noel ...”. Essa é apenas uma de muitas. Inúmeras canções de Valente foram regravadas por Carmen Miranda, como, por exemplo, Camisa Listrada e Uva de Caminhão.

Assis Valente nasceu no dia 19 de março de 1911, na Bahia. Ainda pequeno foi roubado de seus pais. Aos dez anos, declamava poemas com muita propriedade. Seus primeiros sambas foram gravados na década de 30.

Por conta das dívidas, o cantor e compositor tentou suicídio por três vezes. Na primeira cortou os pulsos, na segunda saltou do Corcovado e na terceira, sem volta, ingeriu formicida. No bolso deixou um bilhete pedindo ao amigo e compositor, Ary Barroso, que pagasse dois meses de aluguel atrasado e um último verso: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos e de tudo”. Este fato ocorreu no dia seis de Março de 1958.


Para conhecer um pouco mais da obra de Valente, sugiro que assista este vídeo abaixo com as principais composições do artista.


http://www.youtube.com/watch?v=2a64FxYAIew

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Utilidade Pública

Projeto quer incluir bilhete único para Paquetá


Moradores de Paquetá poderão ser beneficiados com o bilhete único. Trata-se de um ganho para os moradores da região, assim como para os visitantes. Hoje a passagem custa R$ 4,50.

“Não faz sentido que um morador de Paquetá que não tenha acesso a um benefício, pagando muito mais ao se deslocar para o trabalho. Isso é uma distorção”, critica o deputado Gilberto Palmares, um dos autores do projeto.

Hoje já são contemplados nos sistemas de integração os seguintes municípios:

. Angra dos Reis . Mangaratiba

. Belford Roxo . Duque de Caxias

. Guapimirim . Itaboraí

. Itaguaí . Japeri

. Magé . Mangaratiba

. Marica . Mesquita

. Nilópolis . Niterói

. Nova Iguaçu . Paracambi

. Queimados . Rio de Janeiro

. São Gonçalo . São João de Meriti

. Seropédica . Tanguá

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Exclusivo

A ´Era Marcão’ no Fluminense


Marcão chegou ao Fluminense em 1999 quando o time estava na Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. Com muita garra, o volante se tornou um dos símbolos do time que colocou o clube em seu devido lugar: na disputa da elite do futebol. Marcão ficou no clube até 2007 disputando 396 jogos. Hoje, ele é o atual técnico do Bangu, mas o Tricolor das Laranjeiras permanece vivo em sua memória. “Sonho sim em voltar. Só não sei se vai ser como treinador. Mas vou voltar!”.





1. O que tem achado da vida de técnico? Muito diferente da vida de jogador?

Estou me sentindo muito bem. Na verdade, é tudo aquilo que fazemos da nossa vida toda como atleta. O que muda é a responsabilidade. Tudo passa por você, mas gosto de administrar tudo isso.

2. Enquanto jogador você já pensava em se tornar técnico?

A princípio não, mas depois de algum tempo, achei que seria interessante passar por esta experiência; passar para os meninos tudo aquilo que me passaram quando precisei.

3. Quem são suas maiores influências enquanto treinador?

Tenho uma família linda que amo demais e me apóia em todas as circunstâncias e profissionalmente, tive grandes profissionais e hoje amigos como o Waldemar Lemos, Oswaldo de Oliveira, Parreira, Ricardo Gomes, Cristóvão entre outros, que me motivaram com suas sinceridades e amor no que fazem e isso, é exemplo para aqueles que estão começando, como no meu caso.



4. Você marcou uma época como jogador do Fluminense tornando-se ídolo da torcida. Que análise você faz da ‘Era Marcão’ no tricolor?

Agradeço a Deus todos os dias por ter me dado a oportunidade de passar por este grande clube e ter ainda o carinho de uma torcida linda e maravilhosa. Nessa linda construção que vemos hoje, acho que coloquei um tijolinho rsrsrs ...

5. Faltou algo nessa era no Fluminense?

Não ... foi tudo muito maravilhoso. Passei por todas as experiências possíveis!

6. Você saiu do Flu no início de 2007. Ficou alguma mágoa com o Branco?

Fiquei chateado somente com a maneira que foi conduzida. Me avisaram somente no último instante. Talvez se não fosse daquela maneira hoje eu não teria o carinho de toda a torcida e da instituição. Sempre falei que a instituição é e sempre será maior do que todos que lá estiveram, estão e futuramente vão estar no comando do FLUMINENSE F.C.

7. Você sonha voltar as Laranjeiras como treinador do Flu?

Sonho sim em voltar. Só não sei se vai ser como treinador. Mas vou voltar!

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Saúde

Os números da AIDS no Brasil
Luis Eduardo Souza Costa


Em primeiro de dezembro foi celebrado o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Em meio às iniciativas e slogans que marcaram a data, o Ministério da Saúde divulgou o Boletim Epidemiológico AIDS/DST 2011, uma compilação dos dados estatísticos que mostram o status da doença no Brasil.

Apesar de reconhecidos avanços, frutos de uma política contínua de campanhas educativas visando a prevenção, aliada à evolução dos tratamentos e de investimentos na qualificação dos profissionais de saúde, o Boletim revela uma questão alarmante: Nos últimos 12 anos, houve um aumento de 10,1 % na incidência da doença entre os homossexuais jovens (de 15 a 24 anos).

Os números coletados apontam que, em 2010, para cada 10 heterossexuais infectados, 16 homossexuais foram diagnosticados com AIDS. Em 1998, a relação era consideravelmente menor: 10 para 12. Não por acaso, o tema escolhido como mote para a campanha deste ano, “A AIDS não tem preconceito-Previna-se”, destaca ações específicas voltadas para esse grupo.

Em contrapartida, todos os demais índices divulgados reforçam a tendência de queda ou de estabilização nas notificações da doença já identificadas nos últimos anos. Desde 1999, a taxa de mortalidade caiu 17 %, passando de 7,6 para 6,3 por cada cem mil pessoas. Os casos de incidência também diminuíram, entre 2009 e 2010 passaram de 18,8 para 17,9 em um universo de mil habitantes. As ocorrências relacionadas às infecções em crianças de até 5 anos, transmissões ocasionadas em gestações de pacientes soropositivas, apresentaram uma queda de 41 % quando analisadas desde 1998.

Em termos regionais, o Sudeste se destaca com um índice de 17,6 casos (em cem mil habitantes) em 2010 contra 19,2 no ano anterior. O Estado de São Paulo respondeu pela maior redução, 18,1 para 15,9. De forma geral, o percentual total de infectados vem se estabilizando em torno de 0,6% da população.

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Atualidade

Um passo para a democracia


Um projeto de lei aprovado no Senado e a espera da sanção da presidente Dilma Rousseff, pode nos ajudar a desvendar parte da história brasileira ainda obscura. Trata-se de um projeto de lei que põe fim ao sigilo eterno de documentos oficiais e que regula o acesso a informações do governo. Se aprovado, o prazo máximo para que as informações do governo sejam mantidas em até 50 anos.

Se aprovado, essa será a nova divisão dos documentos:

- reservado (mantidos em segredo por cinco anos)

- secreto (mantidos em segredo por quinze anos)

- ultrassecreto (mantidos em segredo por vinte e cinco anos)

De acordo com o historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Daniel Chaves, este projeto de lei é benéfico para o país. A importância é simples: a busca pela justiça está em um contexto ainda incerto para os que sofreram com o regime de exceção instalado no Brasil. A injustiça pode, em primeiro momento, beneficiar a poucos. Mas em largo prazo, atrapalha o bom convívio e a construção institucional republicana brasileira."

O ex-presidente da República e atual senador, Fernando Collor de Mello, propôs a manutenção do sigilo eterno para informações relativas às áreas nuclear, aeroespacial, defesa nacional e na relação com outros países. Ele argumentou que a divulgação de documentos poderiam criar problemas diplomáticos para o país, independente da época. No entanto, suas preocupações não foram aceitas.




É fato, que ainda há muito para se descobrir da história recente do país. Muitos desaparecidos na época da ditadura continuam atormentando seus familiares em busca de informações. O jornalista Vladimir Herzog talvez seja o caso mais famoso. Porém, muitos anônimos tiveram, provavelmente, o mesmo fim. Nesse sentido, este projeto de lei pode ser um grande passo.

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Literatura

O mundo em vermelho e preto
Luis Eduardo Souza Costa


Contar a formação e o apogeu do maior time do clube de futebol mais popular do país foi a tarefa hercúlea a que se submeteu um notável jovem talento do jornalismo esportivo, Eduardo Monsanto, apresentador e narrador dos canais ESPN.

Dudu, como é conhecido, esmiúça a gênese de um time de sonho, que levou ao topo do mundo a mística da camisa rubro negra, o manto sagrado.

Embora centrado no ano de 1981, o da conquista da Libertadores e do Mundial de Interclubes, a história, de fato, começa bem antes, em 1976, quando o capitão Cláudio Coutinho assume uma equipe promissora, recheada de pratas da casa, lideradas pelo já extraordinário Zico, mas abalada pelos recentes maus resultados e pela morte do promissor meio campista Geraldo.





Dizem que os grandes triunfos muitas vezes são forjados na adversidade, com o Flamengo não foi diferente. Em 1977, ao perder, nos pênaltis, o campeonato estadual para o Vasco, o elenco se reuniu em um bar logo após a partida. Ali foi firmado uma espécie de pacto, em que todas as verdades foram ditas sem rodeios e as arestas aparadas. Já no ano seguinte, a primeira grande conquista daquela geração : o troco sobre o time da colina. A vitória por 1 a 0, gol do Rondinelli nos últimos minutos, garantiu aos rubros negros o título carioca daquele ano. Façanha repetida duas vezes (por obra da inacreditável desorganização do nosso futebol, o campeonato do Rio foi disputado duplamente em 79), valendo o terceiro tricampeonato da história do Flamengo.

Essa passagem, assim como todo o livro, é enriquecida por saborosas histórias de bastidores. O campeonato de 78 culminou com a fundação da Raça Rubro Negra, uma das mais tradicionais torcidas organizadas do país. Cláudio Cruz, criador e primeiro presidente da torcida, narra que para aquela final, ele junto com alguns outros integrantes, se internou clandestinamente no Maracanã, de sexta até domingo, sobrevivendo à base de água e sanduíches de mortadela. Tudo para garantir a festa, com os rolos de papel jogados da arquibancada, atividade proibida à época.

O ano de 1980 trouxe a consagração de um título nacional e inaugurou a maior rivalidade rubro negra fora do estado, já que em um Maracanã absolutamente lotado, o Flamengo bateu o poderoso Atlético Mineiro, dos craques Cerezo, Éder e Reinaldo, por 3 a 2. Nunes, o artilheiro das decisões, começava ali a escrever a sua gloriosa trajetória envergando a camisa 9 vermelha e preta.

Campeão Brasileiro, o Flamengo carimba o passaporte para a Libertadores. Seria a primeira participação do clube no que até então era considerada uma das competições mais difíceis do mundo, não só pela parte técnica em relação ao que acontecia nas quatro linhas, mas também pelos inúmeros obstáculos extra campo. Aquela edição não fugiria à regra.



Até a apoteótica final no Estádio Centenário, na capital uruguaia, a equipe da Gávea percorreu um árduo caminho. Três verdadeiras batalhas contra o galo mineiro, partidas na altitude boliviana (no que foram seguidos pelos intrépidos fundadores da Raça, em uma das aventuras mais divertidas do livro) e atuações praticamente criminosas dos jogadores do Cobreloa na final, com destaque para o carniceiro Mário Soto, justiçado por Ancelmo, em um episódio folclórico do nosso futebol.

Em meio à comemoração pelo título inédito e à preparação para a disputa do Carioca de 81, uma bomba. A morte do mentor e ex-treinador daquele time, Cláudio Coutinho, falecido em um acidente enquanto praticava pesca submarina.

Dudu Monsanto segue discorrendo sobre as curiosas finais do estadual 81, marcadas pelo simbólico “ jogo do ladrilheiro”, o terceiro da série decisiva e que mais uma vez valeu o título para Zico e Cia contra o mesmo rival Vasco.

Essa nova conquista serviu como aperitivo ao grande prato principal do ano e da trajetória do futebol rubro negro até aqui, a conquista do Mundial Interclubes frente ao Liverpool. Cada detalhe daquela jornada histórica, a aclimatação na Califórnia , com direito a giro na Disneylândia, o pagode pouco antes da entrada em campo, a reação irônica dos europeus à corrente dos flamenguistas, tudo isso, ganha tintas épicas sob a pena leve de Monsanto.

Os gols de Nunes (2) e Adílio que liquidaram o campeão inglês ainda no primeiro tempo, são primorosamente narrados de forma a transportar o torcedor, mesmo aquele nascido após 1981, para as arquibancadas do Estádio Nacional de Tóquio, naquele início de tarde japonês e em plena madrugada brasileira. Nesse aspecto, o texto é ajudado pelas muitas fotos e ilustrações, não só dos momentos cruciais da trajetória como de extensa memorabilia da campanha.

Por fim, fica a sensação de que as páginas de “1981- O Ano Rubro Negro” eterniza de forma impecável os feitos de uma geração de ouro, levando aos quatro cantos do mundo o grito que ecoa do Oiapoque ao Chuí, refletindo uma nação imensa e apaixonada. Arigatô Flamengo.