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Entrevista

“Fazer Rock Progressivo hoje é difícil em qualquer lugar do mundo”.

Sérgio Hinds tem o seu nome marcado na história da música brasileira, mais precisamente no rock progressivo tupiniquim. O baixista é um dos fundadores da banda O Terço que possui inúmeros hits nos anos 70 e 80, como, por exemplo, ‘Criaturas da Noite’, ‘1974’, ‘Hey Amigo’, ‘O Vôo da Fênix’, entre tantas outras. 40 anos após o lançamento do primeiro trabalho da banda, a gravadora Discobertas está relançando esta obra prima do rock com uma com uma compilação intitulada ‘Tributo ao Sorriso’, composta de faixas lançadas somente em obscuros compactos, entre 1970 e 1971. “Pra mim só é motivo de orgulho ver nosso trabalho reconhecido e colocado à disposição no mercado para os fãs e para as pessoas que procuram conhecer toda discografia do Terço”, afirma Sérgio Hinds.


1. O Terço junto com os Mutantes ainda é uma das grandes bandas do país. Como é fazer rock progressivo no Brasil?

Fazer Rock Progressivo hoje é difícil em qualquer lugar do mundo. A música pop monopoliza as atenções e as execuções nas rádios e tvs. O Progressivo fica condicionado aos espaços alternativos de mídia. Fora da mídia as bandas acabam também tendo dificuldade de vender seus shows. Umas poucas bandas de sucesso internacional sofrem menos esse problema. Terço e Mutantes apesar de bem conhecidos tem dificuldades de ter uma agenda constante.

2. Como é ter relançado o primeiro álbum da banda, 40 anos após o lançamento oficial?

O Marcelo Fróes está de parabéns pelo trabalho que vem fazendo de resgate dos discos que tiveram a sua importância na época e relançá-los remasterizados nas mídias de hoje. Pra mim só é motivo de orgulho ver nosso trabalho reconhecido e colocado à disposição no mercado para os fãs e para as pessoas que procuram conhecer toda discografia do Terço.



3. Há o projeto de novos relançamentos?

Com relação a novos relançamentos, acredito que depende bastante do resultado deste.

4. E sobre um novo lançamento?

Estamos compondo novas músicas para num futuro próximo entrarmos em estúdio para gravarmos um disco de inéditas. Estarei lançando pela gravadora e editora Arlequim no dia 14 de março de 2011 um CD solo gravado ao vivo.

5. Em quais trabalhos está atuando atualmente?

Estou no Terço, com o meu trabalho solo e produzindo o disco da minha esposa Daniela Colla.

6. Em seu site oficial há arquivos para downloads. Acredita que este seja o melhor caminho para driblar a pirataria e a crise financeira que vive as gravadoras?

No meu site só tem duas músicas para downloads. É apenas uma referência ao meu trabalho. Com relação à pirataria, no momento em que se criou o sistema digital tudo pode ser copiado e transformado com a mesma qualidade que o original e com um custo muito baixo. É impossível criar um sistema de proteção, pois tudo que se ouvir ou ver digitalmente pode ser copiado, vendido ou disponibilizado na internet. Com isso, todo o mercado cultural está comprometido com a pirataria. Até os livros estão sendo digitalizados e disponibilizados gratuitamente na internet. Acho que hoje e no futuro o faturamento dos artistas estará muito ligado às apresentações ao vivo.

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Música

Paul McCartney – Estádio do Morumbi – 21/11/2010
Flavio Bahiana - jornalista
flaviobahiana@gmail.com


Sabe quando você acorda cedo, quer voltar a dormir, mas uma ansiedade toma conta de você, algo que lhe diz pra levantar logo, porque aquele será um dia especial, um dos melhores da sua vida? Então, foi assim que eu me senti quando acordei neste último domingo, dia 21 de novembro de 2010, quando acordei em São Paulo. O mesmo deve ter acontecido com diversos outros fãs também. A ansiedade era grande porque neste dia iria presenciar o show de um dos maiores artistas do último século, Paul McCartney, compositor de algumas das mais lindas músicas já feitas em toda a história da música.


Esta não é a primeira vez que Macca vem ao Brasil. A primeira passagem do ex-beatle pelo país foi em 1990, quando tocou para 184 mil pessoas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Público recorde em uma apresentação de um artista solo. Em 1993 Paul voltaria ao Brasil para duas apresentações, uma no Estádio do Pacaembu em São Paulo e outra na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba.



Nesta terceira passagem pelo país, após 17 anos, Paul não tocou no Rio de Janeiro e nem em Curitiba, mas realizou um show na cidade de Porto Alegre, no dia sete de novembro, no Estádio Beira-Rio e mais duas apresentações em São Paulo, nos dias 21 e 22 de novembro, no Estádio do Morumbi. Além do Brasil, Paul McCartney também fez shows em Buenos Aires, na Argentina, nos dias 10 e 11 de novembro, no Estádio do River Plate.

No início da tarde os arredores do Estádio do Morumbi já começava a ficar cheio de fãs à espera da abertura dos portões, que estava marcada para as 17h30min. Neste horário as filas já estavam grandes, mas não houve problemas ou confusões, apenas os mesmos acontecimentos de sempre em shows desse tipo no Brasil, mal educados querendo furar fila, falta de organização das mesmas e policiais mais preocupados em assustar e pegar mercadorias de pessoas que estão apenas tentando trabalhar do que impedir a venda de ingressos pelos cambistas ou impedir que bandidos cobrassem valores exorbitantes por uma vaga de estacionamento na rua. Também houve uma demora maior na abertura dos portões da pista, pois a fila só começou a andar mesmo por volta das 19h. Mas, a princípio, não houve qualquer tipo de problema para a entrada do público.

Às 21h o Estádio do Morumbi já estava completamente tomado e a ansiedade começava a aumentar a cada minuto que se passava. Era pouco mais de 21h30min quando as luzes se apagaram e o estádio passou a ser iluminado apenas pela luz da bela lua cheia que estava no céu aquela noite. A euforia passou a tomar conta dos presentes e quando os primeiros acordes e versos da introdutória “Venus and Mars” começaram a ser executados por Paul McCartney e banda, sendo seguida por “Rock Show”, a felicidade podia ser vista nos rostos de cada um dos presentes que estavam próximos. Estas duas músicas também deram início aos shows de Paul em Porto Alegre e o primeiro em Buenos Aires.

Na sequência veio “Jet”, música presente em “Band on the Run”, melhor disco dos Wings, grupo que Paul formou com sua esposa Linda após o fim dos Beatles. Um rock de levantar qualquer arena. “All My Loving” foi a primeira dos Beatles a ser executada e arrancou lágrimas desse que vos escreve, assim como “The Long and Widing Road”, uma das músicas mais belas de todos os tempos. Mas antes desta ser executada, teve-se ainda: Letting Go, Drive my Car (grande Rock´n´Roll dos Beatles), Highway e Let me Roll It, em que a banda executou “Foxy Lady”, um dos grandes clássicos de Jimi Hendrix.


Após as músicas “1985” e “Let me In`”, Paul McCartney volta ao piano para a execução de “My Love”, talvez a mais bela balada dos Wings. Outra de fazer lágrimas rolarem. Antes de começar esta música ele diz: “Está música eu compus para a minha gatinha Linda, mas hoje ela é dedicada a todos os namorados”. Sim, ele falou tudo isso em português, assim como quase todos os outros diálogos dele com o público. Aos 68 anos, Paul McCartney mostrou que está em ótima forma no palco e que é um grande showman.

Depois deste belo momento do show vieram três grandes clássicos dos Beatles, “I`ve Just Seen a Face”, “And I Love Her” e “Blackbird”. A segunda homenagem da noite aconteceu em “Here Today”, música lançada em 1982 e que Paul compôs em homenagem a John Lennon, que havia sido assassinado dois anos antes. O amigo com quem formou a maior parceria de composição de músicas no último século voltaria a ser homenageado mais a frente, quando o Paul e banda tocaram “A Day in the Life” seguida do refrão de “Give Peace a Chance”. É emocionante ver mais de 60 mil pessoas cantando um dos maiores hinos pacifistas do mundo. É esse tipo de momento que te faz acreditar que o mundo ainda poderá ser melhor, sem guerras, sem fome, sem violência, sem preconceitos...

Em seguida a banda executou a música “Dance Tonight”, presente no último disco solo de Paul, o bom Memory Almost Full, de 2007. Esta, junto com “Highway” e “Sing the Changes”, foram às únicas gravadas por Macca nesta última década que estiveram presentes no set list, que priorizou a carreira do músico durante as décadas de 60 e 70 e que, curiosamente, não teve nenhuma música gravada por Paul nas duas décadas seguintes, 80 e 90.

A próxima música, “Mrs. Vandebilt”, foi lançada no disco “Band on the Run”, dos Wings, em 1973. Apesar de ser uma boa música, soar muito bem ao vivo e ter um clima agitado e divertido, com melodias que lembraram canções do Leste Europeu, ela nunca havia sido tocada em um show de Paul antes de 2008, quando foi executada em Kiev, capital e maior cidade da Ucrânia, após vencer uma votação na internet. A partir de então, ela nunca mais saiu do set list.

“Eleanor Rigby” veio em seguida, sendo executada apenas pelo tecladista Paul Wickens e por Paul McCartney no violão, com os outros integrantes do grupo fazendo os backing vocals. Ela abriu caminho para outra grande homenagem da noite, ao ex-companheiro de Beatles, George Harrison. Macca trocou o violão por um Ukelele (instrumento parecido com o violão e muito utilizado nas músicas nativas havaianas) e tocou mais uma das mais belas canções dos Beatles, “Somethig”, composta por Harrison. Outro momento especial e inesquecível, que emocionou o público.

Um dos maiores hits de Paul McCartney na fase pós-Beatles, “Band on the Run”, veio após “Sing the Changes” e foi à última música dos Wings na noite, que ainda estava longe de acabar, para a alegria de todos os presentes.


Após estas músicas, teve-se o início do desfile de clássicos dos Beatles. A primeira foi “Obla Di Obla Da” que, particularmente, não acho que seja uma das melhores do quarteto de Liverpool, mas funciona muito bem ao vivo, com uma levada bem animada e dançante. O rockão “Back in the U.S.S.R” veio logo depois, levantando ainda mais o público no Estádio do Morumbi. Em seguida ainda vieram “I`ve Got a Feeling”, “Paperback Writer”, “A Day in the Life” e Let it Be”. A sequência de clássicos dos Beatles só foi interrompida para a execução do hit “Live and Let Die”, que emocionou o público e Paul McCartney, que ao final da música ficou parado, diante de seu piano, observando o público como se não estivesse acreditando no que estivesse vendo, logo ele, tão acostumado a tocar para as maiores platéias do planeta. Encerrando a primeira parte do show, “Hey Jude”, que fez com que todos cantassem juntos o belo e simples refrão.

No primeiro bis os destaques ficaram por conta de “Get Back”, com os ótimos solos de guitarra e piano. Uma das músicas mais pesadas gravadas pelos Beatles. Antes dela teve-se ainda “Day Tripper” e “Lady Madonna”. Esta última poderia ser facilmente descartada para a entrada de músicas como “Penny Lane” ou “Magical Mystery Tour”, que inclusive fez parte do set list dos segundos shows de Buenos Aires e São Paulo.

Mas, opiniões particulares à parte, o segundo bis veio logo na sequência, com um intervalo bem curto entre um e outro, e teve início com a mais bela canção já composta por Paul, “Yesterday”. Depois veio “Helter Skelter”, com riffs pesados de guitarra e vocal rasgado de Paul. Esta música é considerada por muitos como precursora do Hard Rock e Heavy Metal, estilos que se tornariam populares na década de 70. As duas últimas músicas deste grande espetáculo foram “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)” e “In the End”, que encerraram de forma espetacular um show que teve aproximadamente três horas de duração. Nada mau para um senhor de 68 anos que, mesmo após várias décadas tocando em estádios, ainda se emociona com o que faz.

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Entrevista

Trajetória da imprensa gay

O entrevistado de hoje é o designer gráfico, mestre em design e doutor em literatura comparada. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFRJ e da faculdade de moda do SENAI/CETIQT. Seu nome é Jorge Caê Rodrigues. Em seu segundo livro, antes já havia lançado ‘Anos fataisdesign, música e tropicalismo’, ele aborda a trajetória da imprensa gay no Brasil, desde o jornal ‘O lampião da esquina’ (1978-1981) até a revista ‘Sui Generis’ (1995-2000). Confira abaixo a entrevista exclusiva onde o autor fala sobre seu novo livro ‘Impressões de identidade: um olhar sobre a imprensa gay no Brasil’ (Editora da UFF).


1. Neste trabalho, você parte do jornal O Lampião da esquina
(1978-1981) até a revista Sui Generis (1995-2000). Do ponto de vista
editorial, qual a diferença básica entre esses dois veículos?

Estamos falando de dois periódicos com apresentações diferentes. O Lampião era um jornal, (com suas especificidades); a Sui uma revista que também tem especificações. Estou falando em visualidade e seu papel dentro do universo das midias, mas, em termos editoriais, o jornal buscava um lugar; buscava uma discussão que envolvia, não só os gays, mas também os negros, mulheres, ecologistas. O Lampião surge no fim da ditadura, no momento em que começava a abrir espaço para discussões que envolviam não só questões partidárias (fim da ditadura), mas, principalmente, sobre as novas possibilidades de comportamento que já haviam chegado ao Brasil, via teatro, música, contracultura etc ... A homossexualidade ainda era um assunto que a sociedade tentava invisibilizar. Quando a Sui aparece, são outros tempos. A Aids tinha obrigado a sociedade a discutir a sexualidade. A homossexualidade não era algo distante, podia acontecer com seu filho, assim como acontecia com artistas. A Sui apresenta uma nova possibilidade para os gays, que são as revistas de comportamento. A Sui fala de assuntos, tais como moda, que não tinham espaço no Lampião. Além disso, é um momento que os gays já não são vistos como causadores da Aids. É um momento de orgulho, de ativismo, de tornar-se cada vez mais visível para a sociedade.

2. Falando especificamente do jornal O Lampião da Esquina, mesmo com a
censura mais branda no final dos anos 80, como esse veículo foi aceito
pela sociedade?

Não afirmaria que ele foi aceito pela sociedade. A grande massa não comprava o jornal, mas ele foi aceito por parte da intelecutalidade. O jornal produzia grandes entrevistas com nomes importantes do cenário sócio-político-artístico brasileiro (Gabeira, Lula, Norma Benguel e outros). Seria importante pesquisar o que aconteceu no fim da sua vida, quando as editorias assumem um aspecto mais popularesco. De qualquer forma, era um momento que a ‘imprensa marginal’ fazia parte do cotidiano de certos leitores.

3. Na sua opinião, como que a mídia tem lidado com os temas relativos
ao homossexualismo? Acredita que há um demasiado sensacionalismo?

Sexo sempre dá ibope,e hoje há mais liberdade para tratar do assunto. Daí que muitas vezes uma discussão sobre o assunto pode facilmente tornar-se algo sensacionalista, mas, não sou contra que a TV apresente personagens gays. Se não for tendencioso, pode e deve mostrar. Penso que temas como tais devem ser discutidos, pois é a única forma para que possamos aprender como mostrar, como fazer, pois como disse no inicio, por muito tempo os homossexuais foram invisibilizados pela sociedade.

4. Do ponto de vista comercial, você acredita que há interesse das
grandes empresas no investimento em espaço publicitário para novos
veículos voltados para o público homossexual?

É uma coisa nova! Já temos exemplos no mercado (Revista Junior) de grandes nomes fazendo anuncio para o publico gay (Tam, Fnac, etc). Hoje temos revistas bem sucedidas, nas quais o espaço publicitário já tem um peso importante. O interesse comercial virá quando os dois lados da moeda (mercado versus publico) entender a importância do valor da compra e venda, umas das armas que os gays americanos usaram e usam para exigir seu espaço social é o poder de compra. Eu não tenho dúvidas que quando o preconceito diminuir as empresas vão investir mais nesse segmento.

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Música

George Harrison versão tupiniquim

Na semana que Paul McCartney esteve no Brasil, outro ex-Beatle aparece com destaque na imprensa e com uma grande homenagem brasileira. Estou falando de George Harrison que teve seu primeiro álbum, ‘All Things Must Pass’, traduzido para ‘Tudo Passa’ (Discobertas). O disco que foi sucesso mundial na época, traz o clássico ‘My Sweet Lord’.

Na versão tupiniquim, as 18 músicas originais foram revistas por grandes nomes de nossa música, como, por exemplo, Fafá de Belém, Milton Nascimento, Zé Ramalho, entre outros. Há ainda espaço para nova geração, como Maria Gadú.

De acordo com Marcelo Fróes, idealizador e produtor executivo do projeto, esse disco mostra Harrison foi, nos anos 70, o ex-beatle mais popular no Brasil. “40 anos depois do lançamento original, ‘Tudo Passa’ mostra o frescor daquele repertório e chega ao mercado às vésperas do ano em que lembraremos que já se vão 10 anos desde a morte de George Harrison”, disse.



Ficha Técnica


01 – I’d Have You Anytime – Milton Nascimento & Leo Fernandes

02 – My Sweet Lord – Fafá de Belém com Raul Mascarenhas

03 – Wah-Wah – Tortú com Sérgio Dias

04 – Isn’t It a Pity – Zé Ramalho

05 – What Is Life – Lia Sabugosa & Márcio Biaso

06 – If Not For You – Luen

07 – Behind That Locked Door – Sérgio Reis

08 – Let It Down – Maria Gadú

09 – Run Of The Mill – Carmem Manfredini & Tantra

10 – Beware Of Darkness – Zé Ramalho

11 – Apple Scruffs – Rodrigo Santos

12 – Ballad of Sir Frankie Crisp (Let It Roll) – Aretha & Tinta Preta

13 – Awaiting On You All – Leo Von

14 – All Things Must Pass – Mu Carvalho

15 – I Dig Love – Tinta Preta

16 – Art Of Dying – Twiggy & Tinta Preta

17 – Isn’t It a Pity – Hevelyn Costa

18 – Hear Me Lord – Manfred com Carmem Manfredini

bônus:

19 – I Live For You – Tantra

20 – Deep Blue – Carolina Lima

Idealização e produção executiva: Marcelo Fróes

Masterização: Ricardo Carvalheira

Projeto gráfico: Bady Cartier

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Entrevista

“Teologia e História precisam caminhar juntas”.

*Agradecimento ao Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese (UFRJ) pelo auxílio na escrita deste texto.

No mês de Julho deste ano, fiz uma entrevista com a maior autoridade em Jesus Histórico, o renomado historiador John Dominic Crossan. Ele, que já esteve no Brasil, em 2007, para participar do I Seminário Internacional do Jesus Histórico (IFCS/UFRJ), falou sobre cristianismo e alertou sobre a importância de Teologia e História caminharem juntas no discernimento entre o Jesus da História e o Jesus da Fé. “A solução é fazer os dois juntos e reconhecer que, na sua dialética, é possível distingui-los, mas não separá-los. Eles são os dois lados da mesma moeda de Jesus - ou você vê apenas um lado da moeda?”.

1. Muito se tem especulado sobre a vida de Jesus. Quais são as certezas que já temos?

(i). As informações mais certas de fora do Novo Testamento vêm a partir de dados combinados no historiador judeu Flávio Josefo, no final do primeiro século e do historiador Tácito Roma no início do segundo século da Era Comum. Observe estes quatro pontos comuns, acrescentados por mim:

"[1. Movimento] Cristo, o fundador do cristianismo, [2. Execução] sofreu a pena de morte no reinado de Tibério, por sentença do procurador Pôncio Pilatos, [3. Continuação] a perniciosa superstição no início do segundo século foi contida em um determinado momento, apenas para quebrar mais uma vez, [4. ] A expansão não apenas na Judéia, o lar da doença, mas na própria capital, onde todas as coisas horríveis e vergonhosas no mundo coletar e encontrar uma moda”. (Tácito, Anais 15,44)

"[1. Movimento] Sobre este tempo viveu Jesus, um homem sábio, se é que se deve chamá-lo de um homem. Pois foi Ele quem operou maravilhas e foi professor de pessoas, como aceitar a verdade com prazer. Ele conquistou muitos judeus e muitos gregos. Ele era o Messias. [2. Execução] Quando Pilatos, ao ouvi-lo acusado por homens da mais alta posição entre nós, condenou-o a ser crucificado, [3. Continuação] aqueles que em primeiro lugar vieram a amá-lo não desistiram de sua afeição por ele. No terceiro dia ele lhes apareceu de volta à vida, para os profetas de Deus tinham profetizado estas e inúmeras outras coisas maravilhosas sobre ele. [4. ] Expansão e a tribo dos cristãos, assim chamados, depois dele, tem ainda a este dia, não desapareceram”. Josefo, Antiguidades Judaicas 18,63-64).

(ii). (2) Os pontos mais certos do interior do Novo Testamento são: (i) que, no início de seu ministério, Ele foi um seguidor de João Batista e aceitou a visão de João, sendo por ele batizado no rio Jordão, (ii) que , com seu próprio ministério, ele mudou a mensagem de João de um fim iminente, ou seja, uma limpeza divina do mal do mundo, a opressão, injustiça e da violência aqui em baixo sobre de uma terra transfigurada: "a tua vontade seja feita na terra" a partir uma intervenção violenta só por Deus à sua própria visão de um fim de colaboração entre um Deus não-violento e uma comunidade não-violenta, e (iii) que, ao final, Pilatos confirmou que ele era um revolucionário não-violento, publicamente e oficialmente executá-lo, mas não atrás de seus seguidores.

2. E o que podemos afirmar como afirmações falsas?

Aquelas declarações que fazem Jesus punitivo, ameaçador ou violento são falsas. Você pode assistir a expansão cronológica de tal linguagem, quando toma os dados de Marcos, através de Mateus e Lucas e em João. O que João diz em camadas anteriores torna-se muito mais grave em camadas posteriores da tradição. De fato, a comunidade evangélica tardia, encontra-se sobre discriminação ou perseguição. A dureza torna-se a linguagem de Jesus. Todo esse clímax, é claro, no livro do Apocalipse, aonde em uma segunda e violenta vinda de Jesus, nega e anula a encarnação como a única e exclusiva vinda não violenta de Jesus como a revelação do caráter de Deus para os cristãos.

3. Papa Bento XVI, em seu livro "Jesus de Nazaré, disse que não há diferenças entre o Jesus histórico e o Jesus da fé. O senhor concorda?

Por um lado, isso é correto na medida em que o Jesus histórico exigia uma adesão de fé no advento do Reino de Deus, tanto anunciada por ele como um convite de colaboração e encarnado por ele como um exemplo pessoal. Nesse sentido, há apenas um Jesus a proclamar o Reino de Deus na Terra, ontem, hoje e amanhã. Ele nunca foi apenas a falar de técnicas agrícolas para a Baixa Galiléia, Ele estava sempre fazendo afirmações escatológicas que exigiu tanto de rejeição ou de aceitação.

Por outro lado, e após a resposta anterior, em (2), o Jesus da fé no Novo Testamento é tanto uma afirmação daquele Jesus quanto uma subversão dele. O Jesus apocalíptico da Segunda Vinda, por exemplo, não é o Jesus da fé, mas uma rejeição daquele Jesus a nossa acomodação dele para a violência normal da civilização.

4. Por que os judeus preferiram Barrabás a Jesus?

Essa história de Marcos não é História, mas uma parábola. Marcos foi escrito depois da destruição do Templo de Jerusalém, a pátria dos judeus pelos romanos durante a rebelião (66-74 da Era Comum). Essa história parabólica foi inventada por Marcos para comparar os dois modos de método-revolução violenta do mal Bar-Abbas ("filho do pai") e o método não-violento do verdadeiro Bar-Abbas (Filho do Pai) . Oh Jerusalém, diz Marcos, que escolheu o salvador errado e veja o que aconteceu. Não é a história sobre a morte de Jesus em 30 dC, mas a parábola sobre a devastação de Jerusalém em 70 dC. Pilatos agiu de forma adequada na parábola: Barrabás, como um revolucionário violento, foi preso junto com seus seguidores, Jesus, como um revolucionário não-violento, foi preso sozinho.

5. A Bíblia fala sobre a infância de Jesus. Tudo o que se sabe sobre esse momento vem dos Apócrifos que não são fontes confiáveis. O que a História pode dizer sobre Jesus neste período?

Nada. Mateus 1-2 e Lucas 1-2 não são histórias baseadas na informação original, mas aberturas parabólicas, cada um ao seu próprio evangelho. É por isso que eles discordam de forma básica e ainda, porque cada um é uma perfeita síntese introdutória do seu próprio evangelho. Recomendo o livro ‘O Primeiro Natal” (Borg-Crossan) para o argumento completo sobre esse tema.

6. Por que as religiões não estudam o Jesus Histórico?

O estudo histórico de Jesus deve incluir uma interpretação histórica de suas próprias reivindicações religiosas. É preciso incluí-los e, uma vez que fazem afirmações universais sobre a vida humana, o intérprete dificilmente pode fazer justiça histórica, sem admitir uma reação semeadas com eles. O problema é que a teologia geralmente ignora a História, ou faz-se a teologia e a chama de História. A solução não é ignorar a teologia, ou de fazer teologia e chamar-lhe de História. A solução é fazer os dois juntos e reconhecer que, na sua dialética, é possível distingui-los, mas não separá-los. Eles são os dois lados da mesma moeda de Jesus - ou você vê apenas um lado da moeda?

7. Muito se fala dos casos de pedofilia dos sacerdotes. O senhor acha que o fim do celibato seria uma solução?

O celibato não causa a pedofilia, mas, sem o celibato, os bispos casados e com filhos em escolas paroquiais teria, espero, atuado muito diferente com as acusações de pederastia. Pelo menos, suas esposas o teriam feito. O celibato é um abuso de poder, mas é apenas a ponta do iceberg de abuso de poder por parte da hierarquia católica romana (que eu nunca vou igualar com a própria Igreja). Esse abuso é contra Deus, Cristo, a Igreja, Povo de Deus e, finalmente, as crianças. O que é necessário é um Conselho do Vaticano III que (1) eliminaria os cardeais e suas congregações, (2) colocaria um Sínodo dos Bispos escolhidos pelas autoridades nacionais e/ou circunscrições étnicas permanentemente em Roma, (3) para liderar a Igreja, juntamente com o Papa e uma limpeza no Vaticano.

8. Com 15 anos, o senhor se tornou um padre. Por que desistiu do sacerdócio?

Eu decidi me tornar um monge e um sacerdote aos 15 anos, em uma ordem religiosa, católica e romana do século XIII – os Servitas. Fiz isso aos 16 anos e fui ordenado sacerdote em 1957. Minha ordem decidiu que eu deveria ser treinado como um professor bíblico, porque eu tinha cinco anos de grego e latim em uma escola clássica, na Irlanda. Fiquei muito feliz com essa decisão, mas foi completamente deles e nunca foi minha para fazer. Eu solicitei e recebi a permissão para deixar tanto o sacerdócio quanto o mosteiro em 1969, porque, tendo sido treinados para pensar, achei que seria impossível fazê-lo honestamente, depois de "Humanae Vitae", a encíclica contra a natalidade. O controle foi emitido, apesar de sérios desentendimentos teológicos em torno do mundo. Mesmo que, naquela época, tinha sido possível se casar e continuar a ser um padre, eu não teria feito a lealdade de dizer a verdade o melhor que eu vi e lealdade para com os meus votos de um monge e sacerdote havia se tornado irreconciliáveis - para mim. O problema, aliás, não estava com a minha encomenda, mas com o Cardeal Arcebispo de Chicago.

9. O senhor já esteve no Brasil para a realização do I Seminário Internacional do Jesus Histórico, em 2007. Pensa em voltar ao país?

Infelizmente, eu nunca mais voltei ao seu maravilhoso país desde aquela época, mas eu fico muito satisfeito com o meu trabalho estar disponível em Português.

OBS: Esta entrevista está disponível no site http://www.revistajesushistorico.ifcs.ufrj.br/index.html

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Livro

O poeta x Stálin

O livro De Mandesltam para Stálin (Ed. Record) é um livro de romance que surpreende pela precisão dos fatos históricos. Também pudera! O escritor Robert Littell pesquisou arquivou e entrevistou fontes, como a viúva do poeta Mandesltam, Nadejda Mandelstam.

A narrativa tem início na primavera de 1934, em uma Rússia submissa ao terror stalinista e mergulhada na fome em massa causada pelas políticas de coletivização agrícola, quando a menor crítica ao ditador podia levar à prisão, tortura ou morte.

Opositor declarado ao regime stalinista, o poeta Óssip Mandelstam compõe um ríspido epigrama contra o ditador, na qual compara o todo-poderoso Joseph Stálin a um assassino implacável.


"Nós vivemos, mas não sentimos a terra com os pés

Dez passos andando e não podemos ouvir,

E quando há dois suficientes para metade de um diálogo

Eles se lembram do alpinista do Kremlin.

Seus dedos gordos são escorregadios como lesmas,

E suas palavras são absolutos, como medidas de merceiros.

Suas antenas de barata estão rindo,

E sua bota nova brilha.

E ao redor dele a turba de chefes de pescoço curto –

Ele brinca com os serviços de meio-homem.

Quem gorjeia, mia ou geme,

Ele sozinho empurra e pica.

Ele esmaga-os como ferraduras, com decreto após decreto

Na virilha, na testa, no rosto, ou no olho.

Quando há uma execução, há tratamento especial,

E o peito ossétio se infla”.

A princípio, o poema foi recitado secretamente a um grupo de amigos artistas, circulando clandestinamente. Para azar Mandelstam, o poema é descoberto pelo governo. Era a sentença de morte do poeta. Passados seis meses, o poeta foi preso, morrendo em 1939.

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Notícia

Utilidade Pública

Recebi por e-mail e repasso essa informação de utilidade pública:

O Itaú está distribuindo gratuitamente um kit com livros de história destinados a crianças de até seis anos. Basta solicitar através do link http://www.lerfazcrescer.com.br e eles enviam para o seu endereço.

Cada CPF pode pedir um kit e não precisa ser cliente do banco.

Peçam para sua creche, seus filhos, sobrinhos, ou para crianças de uma escola do lado da sua casa. Enfim, vamos fazer todo mundo começar a ler desde cedo!