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“Sou jornalista preocupado com sustentabilidade”

Ele é o apresentador do programa ‘Cidades e Soluções’ na Globonews. O enfoque de seu trabalho é a sustentabilidade. Dessa forma, tornou-se professor da cadeira de ‘Comunicação e Meio Ambiente’ pela PUC-RJ. Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, o jornalista André Trigueiro falou sobre a cobertura dos meios de comunicação sobre o tema ambiental, das reformas do novo Código Florestal e, principalmente, sobre a necessidade de as faculdades de comunicação trabalhar esses temas. “O jornalista não pode sair da faculdade analfabeto ambiental”, afirma.

1. Como surgiu seu interesse pelo jornalismo ambiental?

Não há uma data precisa. A cobertura da Rio-92 pela rádio JB mudou a minha vida. Foi uma escola de jornalismo muito importante. Abriu meu horizonte de percepção. Fui buscar uma formação ambiental fazendo uma pós-graduação em Gestão Ambiental na COPPE/UFRJ. Mas que fique claro: não sou da editoria de jornalismo ambiental. Sou jornalista preocupado com sustentabilidade. Esse assunto não cabe numa editoria apenas.

2. Pelo programa 'Cidade e Soluções' você recebeu inúmeros prêmios por essa iniciativa. Fazendo um panorama da mídia, como analisa a cobertura de assuntos relacionados ao meio ambiente?

Os meios de comunicação estão abrindo mais espaço para notícias alusivas a meio ambiente Nesse sentido, houve um avanço exponencial. Já temos coberturas muito boas. O mundo está se redescobrindo após uma crise ambiental sem precedentes e o jornalismo também está se redescobrindo. Para exemplificar como esse processo avança, a Globonews teve recentemente o primeiro comentarista de sustentabilidade em TV. Hoje, há um número maior de temas a ser debatidos. Há mais pessoas falando sobre meio ambiente e, inclusive, mais oportunidades para jornalistas.

3. Você é professor da cadeira de Comunicação e Meio Ambiente na PUC-RJ, disciplina ainda não muito difundida nas universidades. Por que não há a devida atenção nos cursos para essa área?

Eu dou um curso que gostaria de ter recebido. Não consigo imaginar um profissional que não entenda o senso de urgência em relação a este assunto. Não me refiro apenas à jornalistas. Como pensar em qualidade de vida, paz, alegria sem a sustentabilidade como suporte do dia-a-dia? O jornalista não pode sair da faculdade analfabeto ambiental. O jornal Valor Econômico tem uma das melhores coberturas em meio ambiente. Não adianta divulgar economia sem pensar em sustentabilidade. Um jornalista que não tem informações sobre o que está ocorrendo de importante nesta área fica limitado: é um jornalista do século XX batendo cabeça no século XXI.

4. Mas você não acha que as coberturas soam um tanto quanto sensacionalistas em relação ao meio ambiente?

Esse é um dos temas que trato com meus alunos na PUC. Alguns aspectos precisam ser levados em consideração. Primeiramente, o jornalista trabalha com notícias. Quando o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) divulga um relatório com notícias trágicas, a mídia, por vezes, precisa alarmar. É um desencontro trágico à medida que os cientistas afirmam que precisam ser feitas mudanças rápidas e os governos protelam. Outro ponto que precisa-se levar em consideração é o factual. Não podemos esquecer a obsolescência da notícia: o que, hoje, é notícia no jornal impresso, amanhã vira embrulho de peixe. Diferente do trabalho contínuo de uma ong, por exemplo. O site do Estadão é um dos melhores que cobrem a área ambiental. Por meio de hipertextos que aludem aos grandes acontecimentos, você mantém aquecidos os temas, que embora não sejam notícias "de primeira página", são de grande importância.

5. E como tem sido a recepção do público?

Foi como disse: houve um aumento exponencial da cobertura desses temas. E não foi à toa. Não podemos esquecer que qualquer cobertura envolve muito dinheiro. Paga-se caro. Por isso, precisa-se de público. E há sim, uma grande demanda. Hoje nós temos uma competição saudável entre diferentes mídias sobre o tema, o que é ótimo. Em suma, as pessoas querem saber essas informações, pois trata-se acima de tudo de qualidade de vida.

6. Qual a sua opinião sobre o Código Florestal?

A reforma do Código Florestal é bem-vinda. Alguns pontos precisam ser debatidos e modificados. O problema é o fato de ter recebido críticas de cientistas e ambientalistas. De acordo com os cientistas, o código está mal embasado, com carência de dados técnicos. Já para as organizações sérias de meio ambiente, com esse código, o Brasil não poderá manter o compromisso de evitar desmatamentos até 2020. Acredito que com mais base técnica o governante tiver, melhor será a sua decisão política. O Código já é desrespeitado, pois envolve pequenos produtores que ocupam áreas protegidas. Precisa ter sensibilidade. Não pode ser oito ou oitenta.

7. Em seu livro 'Espiritismo e Ecologia' você aponta inúmeras afinidades entre essas duas áreas de conhecimento. Qual seria a principal delas?

A dimensão ética. Todas as religiões ou filosofias espiritualistas defendem a vida. Repare que todas, por princípio, deveriam ser sustentáveis. Espiritismo e Ecologia enxergam a o mundo de forma parecida e sistêmica. É fascinante estudar essas duas áreas do saber e do conhecimento por tudo.