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Entrevista com Túlio Maravilha

Vitor Orlando Gagliardo - jornalista

govitor@yahoo.com.br


Ele tem um jeito único e irreverente de ser. Quem não se lembra das provocações de Túlio Maravilha antes dos jogos? Atualmente, joga no Botafogo-DF, mas não se esquece do Glorioso carioca, onde conquistou seu título mais importante, o Campeonato Brasileiro de 1995. Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, o artilheiro fala sobre sua carreira, seleção brasileira, política e, claro, sobre o projeto do milésimo gol. “Vai ser se Deus quiser, em 2011, no Engenhão, com uma enorme festa”.


1. Você já vestiu 22 camisas pelo Brasil e pelo mundo. Você foi revelado pelo Goiás, mas consagrou-se no Botafogo. Qual time você mais se identifica? Conte mais sobre suas passagens por clubes como Ujpest, da Hungria em 2002; Jorge Wilsterman, da Bolívia; FAST Club, do Amazonas, entre outras tantas passagens curiosas.


Vesti muitas camisas. Em alguns clubes escrevi lindas histórias e em outros nem tanto. Mas isso, no futebol, é assim mesmo. Sem dúvida, minha maior identificação foi e é com o Botafogo. Lá, fui por várias vezes artilheiro. Foi no Rio de Janeiro que ganhei o ‘Maravilha’, que hoje faz parte do meu nome. Além de ter sido fundamental na maior conquista da história do Botafogo, que foi o Campeonato Brasileiro de 95, quando fui, mais uma vez, artilheiro.

Minha passagem pelo exterior não foi nada marcante. Aproveitei para contabilizar gols na carreira. Na Suíça, muito, muito frio e não me adaptei. Hungria e Bolívia... Deixa pra lá! (risos).

Sou o Túlio Maravilha artilheiro do Brasil e, aqui sim, jogo futebol com alegria.


2. Como foi ganhar o Brasileirão de 95 e ainda ser o artilheiro da competição pelo Botafogo? Como você avalia a atual fase da "Estrela Solitária" e do futebol carioca em geral?


Conquistar o título de Campeão Brasileiro pelo Botafogo como um dos principais personagens foi marcante. Vou carregar isso para o resto da vida. Mas torço, sempre, para o Botafogo ganhar outro título brasileiro. Não sou como os jogadores que ganharam títulos de campeões do mundo pela Seleção Brasileira e ficam, visivelmente, torcendo contra para não terem o nome apagado na história.

O futebol carioca é muito charmoso, mas charme não conquista campeonatos importantes. O Rio precisa ganhar mais profissionalismo, mas está caminhando para isso, ainda que muito devagar.


3. Como você explica a sua passagem apagada pelo Corinthians em 97? Por que você não chegou a jogar outra vez em um grande clube paulista? Você teve alguma proposta? Por que não deu certo?


Na verdade houve ciúme naquele grupo e tentaram me apagar, mas no único campeonato que disputei, mesmo no banco de reservas, fui artilheiro e campeão pelo Corinthians. Não considero uma passagem apagada. O fato de eu não ter jogado em um outro grande clube paulista não teve relação com eu ter sido reserva no Corinthians. Apenas fui seguir minha carreira em outros Estados.


4. Você é uma figura folclórica no futebol brasileiro. Você gosta disso? Você acha que o futebol precisa de atletas carismáticos como você?


Adoro isso! O futebol sempre precisa de alegria, dentro e fora de campo. As declarações muito politicamente corretas robotizam o futebol. Acho bacana os jogadores que falam o que pensam, mesmo que incomode algumas pessoas.


5. O 950 está chegando... e o 1000? Já tem alguma festa programada? Será com que camisa? Do Botafogo, do Distrito Federal ou do Rio?


Do Rio. Vai ser se Deus quiser, em 2011, no Engenhão, com uma enorme festa.


6. E Seleção Brasileira? Você acumula várias convocações no currículo, porém não chegou a disputar uma Copa do Mundo. Você tem alguma mágoa por isso? Acha que deveria ter mais chances com a "Amarelinha"?


Tenho a melhor média de gols da história da Seleção Brasileira. Sei que poderia ter contribuído muito mais, mas não sinto nenhuma mágoa em relação a isso. Sou muito feliz com tudo o que conquistei e ainda busco conquistar durante minha carreira. No momento da convocação para a Copa, eu não estava em uma fase tão boa e penso que o jogador tem que ser avaliado pelo momento que ele está passando.


7. Quais foram seus principais companheiros de ataque?


Donizete, o Pantera, no Fogão; Niltinho, no Goiás, bem no início da carreira e o Wando, no Vila Nova.


8. Você é um dos vereadores de Goiânia que mais encaminha projetos para a Câmara. Como anda sua vida política? A nação brasileira pode esperar um Túlio artilheiro também com terno e gravata?


Fui, pelos últimos dois anos, o vereador que mais elaborou projetos. Hoje sou candidato a deputado estadual por Goiânia e trabalhando muito na campanha.

O futuro do político depende muito, assim como no futebol, do seu desempenho. Então, quero pensar uma coisa de cada vez.

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Lênin, Stálin e Hitler
Vitor Orlando Gagliardo - jornalista
govitor@yahoo.com.br

Três ditadores. Três personagens que marcaram negativamente a história do século XX. Será que Lênin e Stálin (na Rússia) e Hitler (Alemanha) teriam algo em comum, além de simplesmente matarem milhões de pessoas? Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, o renomado historiador, Professor. Dr. Robert Gellately, apontou inúmeros pontos em comum entre os três e elegeu Lênin como o pior de todos. “Uma pessoa insensível e ambiciosa, que era hipócrita em afirmar que sabia o que era bom para a humanidade, brutal em sua tentativa de submeter o seu próprio povo para a transformação social radical, e convencido de que ele segurou a chave para a eventual derrubada do capitalismo global e as estabelecimento do comunismo mundial”.

1. No livro Lênin, Stálin e Hitler, o senhor compara esses três ditadores. O que eles tiveram em comum?

(a) origem: Os três líderes foram produtos da enorme crise social que começou com a I Guerra Mundial. Essa guerra corroeu as estruturas de estabilização em sociedades em toda a Europa e os mais fracos (Rússia), entraram em colapso em primeiro lugar, seguidos por aqueles que perderam a guerra (Alemanha e Áustria). Sem a guerra, teria sido impensável para qualquer um destes homens chegarem ao poder - que também é válido para o italiano Benito Mussolini.

(b) amoralidade: Para todos os três líderes, os fins justificam os meios: Eles tinham visões de futuro de uma sociedade amoral e foram sobre os meios que usa para realizar seus objetivos. Eles acabaram sacrificando milhões de seus próprios povos e fracassaram.

(c) impacto Social: Cada um deles levou o seu país não à paz, harmonia e felicidade, mas a ruína e degradação em uma catástrofe maior do que qualquer coisa vista na história....

(d) Ideologia e Terror, o comunismo: Lenin e Stalin tinham objetivos "universalistas" no sentido de procurar a cura de problemas sociais de toda a humanidade. Esse universalismo tinha um grande apelo ao redor do globo. "Inimigos" foram definidas principalmente em termos sociais, mas poderia ser qualquer um, com o resultado que o terror poderia afetar a todos e era imprevisível.

(e) Ideologia e Terror, o nazismo: a ideologia de Hitler era baseada na raça, era exclusivista ou particularista. O objetivo foi criar um mundo perfeito, mas apenas para os alemães e um seleto grupo de "arianos" ou "nórdicos". Mas o regime escolhia inimigos que a maioria (nem todos) os alemães antipatizavam ou temiam. Então, o terror de Hitler mais ganhou do que perdeu. O terror foi ainda mais previsível, e se você fosse um cidadão sério, não judeu, e saudável, tinha pouco a temer.


2. A história tradicional não trata Lênin como, necessariamente, um ditador. O senhor o define como “uma pessoa insensível e ambiciosa, que era hipócrita em afirmar que sabia o que era bom para a humanidade, brutal em sua tentativa de submeter o seu próprio povo para a transformação social radical, e convencido de que ele segurou a chave para a eventual derrubada do capitalismo global e as estabelecimento do comunismo mundial”. Fale um pouco mais sobre ele.


Lênin foi um dos primeiros e mais fortes defensores de um partido de vanguarda política. Ele sabia o suficiente sobre o que as pessoas acreditavam e se fossem abandonados à própria sorte (no sentido de governar o país), gostariam de maiores salários, melhores condições de vida, saúde entre outras reformas. O que ele queria era compreender o milênio. Isso significava que um punhado de revolucionários dedicados, a vanguarda, teria que liderar o caminho, para tomar o poder e "forçar as pessoas a serem livres", se fosse necessário. Qualquer um que ficou no caminho desse projeto foi necessariamente um "inimigo do povo" e merecia a morte. Quase todos os seus escritos são polêmicos e falam sobre os ataques contra indivíduos específicos, que tiveram a ousadia de discordar dele. Ele era, em todos os sentidos, muito fanático. Lenin foi também um ‘workaholic’ que assistiu a todos os encontros, intervindo em todas as fases, e não perdia nenhuma chance. Ele não estava interessado em coisas deste mundo como o luxo, mas em viver a revolução. Ele tinha uma fé religiosa de que haveria um ‘amanhã radiante’, onde o capitalismo inevitavelmente morreria e o comunismo sairia como o vencedor. Ele sabia perfeitamente que a revolução que ele pretendia só poderia ocorrer através do mais horrível de todos os conflitos, a guerra civil. Foi por isso que ele se esforçou e no fim conseguiu. Ele estava tão sedento por sangue que pensava apenas que entre a revolução e os inimigos, apenas a espada importava. Ele entendeu que as revoluções são sobre o poder e se aproveitou. Ele não hesitou em, nenhum momento, em iniciar o terror uma revolução. Para ele, era impensável uma revolução sem terror e sem execuções. Era um conto. Lênin queria o poder e Trotsky foi seu primeiro opositor, bem antes da Revolução Russa. Trotsky tinha previsto que a ditadura do proletariado (lema de Lênin) significava, realmente, a ditadura do Partido Comunista e, provavelmente, seria a ditadura de Lênin. Foi um diagnóstico preciso.


3. Como esses três ditadores conseguiram obter o apoio popular em suas ações?

Apenas Hitler realmente se concentrou em se tornar popular. Ele acreditava que um governo forte só poderia assumir a sólida liderança com o apoio das pessoas. Ele queria uma ‘ditadura consensual’, uma forma híbrida de governo em que o governante realizasse medidas radicais, atacando alvos populares, como banir os comunistas, a cura do desemprego a todo custo e findar com os crimes nas ruas. Incluí-se também à perseguição aos judeus. Mas foi com a cura da economia que Hitler finalmente ganhou o apoio do povo alemão, para que três ou quatro anos depois que ele ‘tomou o poder’ - ele venceu com a grande maioria dos votos livres. Lênin e Stalin se preocupavam pouco com a popularidade. Raramente apareciam em público e tomavam decisões sem a preocupação com que às pessoas pensavam ou sentiam. Mantiveram-se longe das multidões que Hitler tanto amava. Os líderes soviéticos guiaram o povo por um caminho que eles decidiram ser o melhor. O único caminho para manter suas idéia foi reduzindo os direitos civis, em especial à liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. Lênin se livrou de ambas nas primeiras 48 horas após a revolução - com o apoio de Trotsky. Lênin também pressionou para a criação de uma nova polícia secreta meses depois e de campos de concentração. Ele fechou as portas do edifício do parlamento, onde eles deveriam elaborar uma nova Constituição. Ele e seus camaradas teriam que decidir sobre a Constituição, as liberdades que poderiam ser exercidas, os poemas que escreveriam e ainda, os livros que leriam.


4. Quais as sequelas que deixaram para a Europa contemporânea?

Embora a Europa esteja em recuperação desde 1945, ainda vai demorar muitas gerações para que restabeleça da Segunda Guerra Mundial e ainda mais tempo para se livrar do terror que estes três líderes infligiram. Stalin e Hitler levaram o mundo para um caminho de guerras para uma catástrofe social. As perdas demográficas jamais serão superadas. Como resultado da guerra e o fracasso de todos os regimes comunistas na Europa, a maioria dos europeus desistiram de rejeitar as ideologias e filosofias ‘totalitárias’. A maioria suspeita de políticos que propõem soluções com ‘total’ e ‘final’. Mas ainda há muitos que apóiam a política extremista e todos nós precisamos estar atentos para isso.


5. É possível apontar qual dos três foi mais destrutivo para a humanidade?


Cada um desses três líderes foi terrivelmente destrutivo e para avaliar qual foi o pior, temos de ir além da simples contagem de cadáveres. Eles estavam tão certos quanto à guerra, que a começaram em Junho de 1941. Para Hitler, era uma ‘guerra da aniquilação’, principalmente contra o que chamou de ‘bolchevismo judeu’. Milhões de pessoas morreram nesse processo, incluindo seis milhões de judeus. Se eu tivesse que escolher, eu diria que as idéias de Hitler foram as mais destrutivas de todas. Ele tentou enterrar as idéias do Iluminismo e outras missões civilizadoras, a fim de criar uma utopia racial para os alemães. Poucas pessoas seriam admitidas nesse seleto grupo. Embora eu sinta que as idéias defendidas por Lênin e Stalin eram falsas, as esperanças foram fundamentadas no Iluminismo. As soluções que Lênin e Stalin propuseram e os métodos que utilizaram em seus ‘pacientes’ tornou-se um remédio amargo, que não só matou muitos, mas enterrou o país no chão. Ainda vai demorar muitas gerações para acabar esse ‘experimento’.

6. O senhor acredita que pessoas como Hugo Chavez, Ahmadinejad e até terroristas com Bin Laden, são resultados desses ditadores?

Há muitos modelos de política no mundo. Como historiador sempre acreditei que devemos aprender com os erros do passado. Lênin, Stalin e Hitler mostram o que acontece quando os líderes políticos estão autorizados a decidirem sobre seus próprios atos. Eu sei que a partir de cartas que recebo de todo o mundo, muitas pessoas têm idéia menor do que Lênin, Stalin ou Hitler realmente representaram. Em todos os lugares circulam noções equivocadas dos três. Eu sei que há países - fora do Oriente Médio - onde Hitler e os outros dois são ‘idealizados’. Em minha pesquisa sobre estas histórias que eu tenho encontrado muitos documentos sobre o comportamento que de tão terrível, não posso incluir a informação no meu trabalho. São notáveis os casos de violência sexual que são tão ruins que não posso sequer mencioná-los a ninguém. No entanto, as pessoas podem descobrir em meus livros sobre as utopias e os ditadores. É por isso, que é nosso dever aprender o máximo que pudermos sobre Lênin, Stalin e Hitler. Não podemos ignorar o passado porque essas idéias ainda estão por aí e continuam a ter uma influência terrível.


7. De que forma eles podem ter influenciado no Brasil e na América Latina?

Os historiadores não têm talentos especiais para profetizar. Tudo o que posso dizer é que no Brasil e na América Latina, a luta sempre foi pela liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade de reunião. Essas são as liberdades que os grandes ditadores atacam primeiramente. Não foi por acaso que, no dia da tomada do poder na Rússia, Lênin aboliu a liberdade de imprensa. Esse foi o seu primeiro grande passo, seguido pela introdução da polícia secreta, a proibição de eleições e assim por diante. Se alguém quiser copiar os experimentos, deve viajar para a Europa Central e Oriental, olhar o que aconteceu com o ambiente, conversar com as pessoas comuns e saber o que eles recordam sobre a vida sob a ditadura. A ascensão de Hitler é ou deveria ser também instrutiva. Depois que ele foi nomeado chanceler em 30 de janeiro de 1933, realizou uma "revolução legal", ou a revolução por etapas. Ele não rasgou a constituição de uma só vez, mas foi eliminando ou superando um parágrafo de cada vez. E então, em um dia, a constituição tinha ido embora. O ativismo cidadão deve ser o nosso lema.