Música
Paul McCartney – Estádio do Morumbi – 21/11/2010
Flavio Bahiana - jornalista
flaviobahiana@gmail.com
Sabe quando você acorda cedo, quer voltar a dormir, mas uma ansiedade toma conta de você, algo que lhe diz pra levantar logo, porque aquele será um dia especial, um dos melhores da sua vida? Então, foi assim que eu me senti quando acordei neste último domingo, dia 21 de novembro de 2010, quando acordei em São Paulo. O mesmo deve ter acontecido com diversos outros fãs também. A ansiedade era grande porque neste dia iria presenciar o show de um dos maiores artistas do último século, Paul McCartney, compositor de algumas das mais lindas músicas já feitas em toda a história da música.
Esta não é a primeira vez que Macca vem ao Brasil. A primeira passagem do ex-beatle pelo país foi em 1990, quando tocou para 184 mil pessoas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Público recorde em uma apresentação de um artista solo. Em 1993 Paul voltaria ao Brasil para duas apresentações, uma no Estádio do Pacaembu em São Paulo e outra na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba.
Nesta terceira passagem pelo país, após 17 anos, Paul não tocou no Rio de Janeiro e nem em Curitiba, mas realizou um show na cidade de Porto Alegre, no dia sete de novembro, no Estádio Beira-Rio e mais duas apresentações em São Paulo, nos dias 21 e 22 de novembro, no Estádio do Morumbi. Além do Brasil, Paul McCartney também fez shows em Buenos Aires, na Argentina, nos dias 10 e 11 de novembro, no Estádio do River Plate.
No início da tarde os arredores do Estádio do Morumbi já começava a ficar cheio de fãs à espera da abertura dos portões, que estava marcada para as 17h30min. Neste horário as filas já estavam grandes, mas não houve problemas ou confusões, apenas os mesmos acontecimentos de sempre em shows desse tipo no Brasil, mal educados querendo furar fila, falta de organização das mesmas e policiais mais preocupados em assustar e pegar mercadorias de pessoas que estão apenas tentando trabalhar do que impedir a venda de ingressos pelos cambistas ou impedir que bandidos cobrassem valores exorbitantes por uma vaga de estacionamento na rua. Também houve uma demora maior na abertura dos portões da pista, pois a fila só começou a andar mesmo por volta das 19h. Mas, a princípio, não houve qualquer tipo de problema para a entrada do público.
Às 21h o Estádio do Morumbi já estava completamente tomado e a ansiedade começava a aumentar a cada minuto que se passava. Era pouco mais de 21h30min quando as luzes se apagaram e o estádio passou a ser iluminado apenas pela luz da bela lua cheia que estava no céu aquela noite. A euforia passou a tomar conta dos presentes e quando os primeiros acordes e versos da introdutória “Venus and Mars” começaram a ser executados por Paul McCartney e banda, sendo seguida por “Rock Show”, a felicidade podia ser vista nos rostos de cada um dos presentes que estavam próximos. Estas duas músicas também deram início aos shows de Paul em Porto Alegre e o primeiro em Buenos Aires.
Na sequência veio “Jet”, música presente em “Band on the Run”, melhor disco dos Wings, grupo que Paul formou com sua esposa Linda após o fim dos Beatles. Um rock de levantar qualquer arena. “All My Loving” foi a primeira dos Beatles a ser executada e arrancou lágrimas desse que vos escreve, assim como “The Long and Widing Road”, uma das músicas mais belas de todos os tempos. Mas antes desta ser executada, teve-se ainda: Letting Go, Drive my Car (grande Rock´n´Roll dos Beatles), Highway e Let me Roll It, em que a banda executou “Foxy Lady”, um dos grandes clássicos de Jimi Hendrix.
Após as músicas “1985” e “Let me In`”, Paul McCartney volta ao piano para a execução de “My Love”, talvez a mais bela balada dos Wings. Outra de fazer lágrimas rolarem. Antes de começar esta música ele diz: “Está música eu compus para a minha gatinha Linda, mas hoje ela é dedicada a todos os namorados”. Sim, ele falou tudo isso em português, assim como quase todos os outros diálogos dele com o público. Aos 68 anos, Paul McCartney mostrou que está em ótima forma no palco e que é um grande showman.
Depois deste belo momento do show vieram três grandes clássicos dos Beatles, “I`ve Just Seen a Face”, “And I Love Her” e “Blackbird”. A segunda homenagem da noite aconteceu em “Here Today”, música lançada em 1982 e que Paul compôs em homenagem a John Lennon, que havia sido assassinado dois anos antes. O amigo com quem formou a maior parceria de composição de músicas no último século voltaria a ser homenageado mais a frente, quando o Paul e banda tocaram “A Day in the Life” seguida do refrão de “Give Peace a Chance”. É emocionante ver mais de 60 mil pessoas cantando um dos maiores hinos pacifistas do mundo. É esse tipo de momento que te faz acreditar que o mundo ainda poderá ser melhor, sem guerras, sem fome, sem violência, sem preconceitos...
Em seguida a banda executou a música “Dance Tonight”, presente no último disco solo de Paul, o bom Memory Almost Full, de 2007. Esta, junto com “Highway” e “Sing the Changes”, foram às únicas gravadas por Macca nesta última década que estiveram presentes no set list, que priorizou a carreira do músico durante as décadas de 60 e 70 e que, curiosamente, não teve nenhuma música gravada por Paul nas duas décadas seguintes, 80 e 90.
A próxima música, “Mrs. Vandebilt”, foi lançada no disco “Band on the Run”, dos Wings, em 1973. Apesar de ser uma boa música, soar muito bem ao vivo e ter um clima agitado e divertido, com melodias que lembraram canções do Leste Europeu, ela nunca havia sido tocada em um show de Paul antes de 2008, quando foi executada em Kiev, capital e maior cidade da Ucrânia, após vencer uma votação na internet. A partir de então, ela nunca mais saiu do set list.
“Eleanor Rigby” veio em seguida, sendo executada apenas pelo tecladista Paul Wickens e por Paul McCartney no violão, com os outros integrantes do grupo fazendo os backing vocals. Ela abriu caminho para outra grande homenagem da noite, ao ex-companheiro de Beatles, George Harrison. Macca trocou o violão por um Ukelele (instrumento parecido com o violão e muito utilizado nas músicas nativas havaianas) e tocou mais uma das mais belas canções dos Beatles, “Somethig”, composta por Harrison. Outro momento especial e inesquecível, que emocionou o público.
Um dos maiores hits de Paul McCartney na fase pós-Beatles, “Band on the Run”, veio após “Sing the Changes” e foi à última música dos Wings na noite, que ainda estava longe de acabar, para a alegria de todos os presentes.
Após estas músicas, teve-se o início do desfile de clássicos dos Beatles. A primeira foi “Obla Di Obla Da” que, particularmente, não acho que seja uma das melhores do quarteto de Liverpool, mas funciona muito bem ao vivo, com uma levada bem animada e dançante. O rockão “Back in the U.S.S.R” veio logo depois, levantando ainda mais o público no Estádio do Morumbi. Em seguida ainda vieram “I`ve Got a Feeling”, “Paperback Writer”, “A Day in the Life” e Let it Be”. A sequência de clássicos dos Beatles só foi interrompida para a execução do hit “Live and Let Die”, que emocionou o público e Paul McCartney, que ao final da música ficou parado, diante de seu piano, observando o público como se não estivesse acreditando no que estivesse vendo, logo ele, tão acostumado a tocar para as maiores platéias do planeta. Encerrando a primeira parte do show, “Hey Jude”, que fez com que todos cantassem juntos o belo e simples refrão.
No primeiro bis os destaques ficaram por conta de “Get Back”, com os ótimos solos de guitarra e piano. Uma das músicas mais pesadas gravadas pelos Beatles. Antes dela teve-se ainda “Day Tripper” e “Lady Madonna”. Esta última poderia ser facilmente descartada para a entrada de músicas como “Penny Lane” ou “Magical Mystery Tour”, que inclusive fez parte do set list dos segundos shows de Buenos Aires e São Paulo.
Mas, opiniões particulares à parte, o segundo bis veio logo na sequência, com um intervalo bem curto entre um e outro, e teve início com a mais bela canção já composta por Paul, “Yesterday”. Depois veio “Helter Skelter”, com riffs pesados de guitarra e vocal rasgado de Paul. Esta música é considerada por muitos como precursora do Hard Rock e Heavy Metal, estilos que se tornariam populares na década de 70. As duas últimas músicas deste grande espetáculo foram “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)” e “In the End”, que encerraram de forma espetacular um show que teve aproximadamente três horas de duração. Nada mau para um senhor de 68 anos que, mesmo após várias décadas tocando em estádios, ainda se emociona com o que faz.
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