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Não, até porque a Câmara dos Deputados não tem governabilidade sobre a Rio+20 que é uma proposta do então presidente Lula em uma reunião na ONU
2. Quais são as suas perspectivas para este evento?
A política é muito multifacetada. Hoje é uma coisa, mas amanhã pode ser muito diferente. Mas hoje, eu não acredito que nós avancemos muito nas posições que a gente tem. Saiu agora um documento da ONU que reúne as propostas do mundo inteiro para a Rio+20. É um rascunho do que vai ser debatido aqui. Eles estão dizendo que os compromissos que vão ser colocados aqui na Rio+20 são compromissos voluntários. Se quiser aderir, adere. Se não quiser, não adere. Aquele que aderir, mas não cumprir, não terá nenhuma sanção. É algo muito frouxo. O Protocolo de Kyoto termina no final deste ano e não existe um acordo para o clima. A Cop 15 foi que salvou alguma coisa, mas é muito incipiente diante da gravidade que é o problema do clima no planeta. Não há governabilidade muito grande. Entre os três principais atores que nós temos para a Rio+20 que são os governos, a sociedade civil e os empresários, quem está mais preparado são os empresários para tentar que a economia verde, ou seja, que o meio ambiente entre para uma economia de mercado que é tudo que a sociedade civil não quer.
3. Qual será a importância da Cúpula dos Povos nesta discussão?
Eu acredito que a Cúpula dos Povos é a única maneira de se forçar uma mudança de comportamento dos governos no sentido de assumir compromisso. A Cúpula dos Povos nada mais é do que a união de grande parte da sociedade civil mundial. Essa sociedade civil que está viva, que está pulsando que estamos trazendo para cá para poder forçar com pessoas na rua, com propostas a conferência principal que vai ocorrer no Riocentro. A Cúpula dos Povos é a única maneira da gente pode forçar essa barra. Ao mesmo tempo, a Cúpula não é um evento
4. É a primeira edição da Cúpula dos Povos?
É. Na Eco-92 foi feito um evento parecido chamado Fórum Global no Aterro do Flamengo.
5. 20 anos depois, você acha que dá dimensionar à Rio+
Nãp, para você ter uma idéia, o evento da Rio-92 teve doze dias de duração. Esse evento agora terá apenas três dias de duração. Tem algo que eu acredito que enfraquece muito, que é muito temeroso que é o fato de dias depois da Rio+20 uma reunião da G-20 no México. O primeiro ministro inglês, David Cameron, que se elegeu dizendo que seria o maior governo ambiental da história, já disse que não virá para a Rio+20. Eu acredito que a gente não vai chegar nem perto dos grandes tratados que foram assinados na Rio-92.
6. Mas você acha que é possível a gente sair da Rio+20 com algum acordo assinado?
Apenas voluntários com alguns países dizendo que vão cumprir algumas promessas. Algum acordo como o Tratado da Biodiversidade, Tratado do Clima, Agenda 21, eu acho muito difícil. Agora, as coisas mudam. Se acontecer, por exemplo, uma grande catástrofe climática por aí, as coisas podem mudar. Hoje o cenário não é. Tanto que o governo sabendo da possibilidade de fracasso da Rio+20 criou também um evento para a sociedade civil para competir, entre aspas, com a Cúpula dos Povos, chamado de Diálogos para a Sustentabilidade. Então, de alguma maneira, o governo também quer influenciar no processo oficial. O país hoje tem um protagonismo meio ufanista, mas ele está fazendo várias regressões como o Código Florestal, no tratamento com os indígenas, o pequeno agricultor estão tendo uma grande dificuldade. Enfim, para você ter uma idéia, o documento oficial que saiu do país para a Rio+20, o Brasil é o maior produtor mundial de agrotóxico. Cada brasileiro bebe mais de cinco litros de agrotóxico por ano. E a palavra agrotóxico sequer é mencionada no documento.
7. Qual seria a prioridade brasileira em um novo tratado? O que o Brasil precisa mais evoluir nesse sentido?
Eu acho que precisa uma mudança de mentalidade. O Brasil está hoje com a mentalidade pós-revolução industrial na Europa e Estados Unidos consumindo todos os seus recursos naturais e esgotando tudo que lhe é precioso. Não existe mais uma floresta em pé na Europa. Eles já acabaram com tudo. No Sudeste da Ásia estão fazendo a mesma coisa. Então, a mentalidade de desenvolvimento que o Brasil está colocando é muito retrógada. Ela deveria estar fazendo isso pensando no meio ambiente. A Usina de Belo Monte não é feita para os moradores. Ela serve para a indústria, principalmente a de alumínio. O Japão fazia isso há vinte anos. Ele só produz, hoje, para uso externo. O Brasil quer esgotar todos esses recursos para crescer e gerar riquezas. O Brasil precisa ter uma mudança de mentalidade. Se não acontecer, fica difícil pensar em grandes avanços.
8. No final do ano passado, Canadá abandonou o Protocolo de Kyoto afirmando que ele não funcionava. O senhor concorda?
É verdade. Ele não funciona. Os maiores emissores, Estados Unidos e China, não participam. Por que o Canadá que assinou o protocolo teria sanção? O protocolo de Kyoto prevê sanção. Por isso, o Brasil também não assinou. Provavelmente, ele saiu pois não teria como manter as promessas feitas e evitar, assim, uma sanção.
9. É possível pensar em um acordo internacional sem a participação de Estados Unidos e China?
O problema que a indústria do combustível fóssil nos Estados Unidos é dominante. Já a China tem a maioria de suas termelétricas baseadas em carvão e em óleo. Eu acredito que da mesma menira que o Obama conseguiu implementar uma política de saúde universal, como a feita aqui no Brasil, eu acho que ele, não agora que será eleição nos Estados Unidos, se reeleito, assuma essa bandeira que ele prometeu na última eleição. Eu tenho a esperança que o Obama possa trabalhar a questão ambiental em seu segundo mandato.
10. Como que a sociedade civil pode participar da Cúpula dos povos?
A Cúpula dos Povos reúne uma grande quantidade de organizações, redes e fóruns de grande capilaridade nacional. E ela está puxando as discussões, mundo afora, sobre a Rio+
11. Você acha que, de certa forma, todos esses eventos que estão programados até 2016 podem facilitar os trabalhos para a propagação da Cúpula dos Povos?
A Cúpula dos Povos é parte de um processo. Ela não começa nem termina. É um processo contínuo. A grande questão é que o apelo da Rio+20 está sendo muito grande. A primeira missão da Cúpula agora é evitar que o mercado se aproprie dos bens comuns e faça a precificação da natureza. A gente quer frear isso. A economia verde não pode virar mercado.