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O Forrest Gump brasileiro - parte II
Vitor Orlando Gagliardo - jornalista
govitor@yahoo.com.br

Nesta segunda parte, Rodrigo fala sobre sua carreira, os Britos, sua reabilitação e ainda nos conta quais foram seus shows memoráveis.

Com vocês, Rodrigo Santos.

1. Falando sobre sua carreira, que história é essa de ‘Forrest Gump brasileiro’?

Rodrigo com o João Penca

Ah ah ah...isso é pelo fato de eu ter participado da década de 80 inteira tocando com diversos artistas nacionais do pop rock. Posso contar a história de vários ângulos diferentes. Toquei com João Penca & Miquinhos Amestrados , Leo jaime, Front, Eletrodomésticos, Lobão, Blitz, Kid Abelha, Barão, Britos e ainda por cima tive banda em que os integrantes todos foram parar com grandes nomes do rock, como Cazuza, Legião e os já citados acima, era o FRONT. Por isso o Forrest Gump. Um dia você saberá isso em livro, documentário e cd, aguarde.

2. Você participa da banda Os Britos, juntamente com Guto Goffi, George Israel e Nani Dias. Vocês tocaram no Cavern Club, templo dos Beatles e ainda foi agraciado com uma medalha da Ordem Britânica. Fale um pouco sobre esse projeto.

Os Britos começaram de forma despretensiosa e em pouco tempo estávamos nos divertindo pelos bares da cidade, esquema Plug and Play ou Plug and Pray (rs). Fomos reunidos pelo pessoal do Circo Voador em 1994 pra fazer o show de lançamento do filme “Back-Beat, os 5 Rapazes de Liverpool”. O filme contava a história do início dos Beatles, aquela fase de ralação antes do primeiro disco, etc, os pequenos shows, as brigas do começo, a falta de grana. Foi tão legal o show que resolvemos continuar ensaiando e aumentando repertório, sempre com o espírito e pegada do rock dos anos 50, mais punk. O nome Britos surgiu num ensaio - não lembro quem deu - e começamos a marcar novos encontros. Não era nada difícil , uma vez que eu e George estávamos sempre juntos, assim como Nani (com quem eu toquei anos e anos) e Guto (tocavamos juntos no Barão).

Depois de um tempo, conhecemos Pedro Paulo Carneiro, diretor da então TVE-RJ, que pirou com a gente e nesse dia - era um especial da TVE - prometeu: “ainda vou levá-los a Inglaterra para Beatles Week”. Três anos depois, depois de shows em muitas espeluncas, e um pseudo DVD registrado por Pedro Paulo no Centro Cultural Sergio Porto, eis que PP (como o chamamos) nos aparece com a real oportunidade de ir gravar um DVD na Inglaterra com o apoio do Visit Britain e da Som Livre, não para Beatles Week e sim para nossa própria Beatles Tour. Montou todo o itinerário e só não aconteceu o encontro com Ringo, nem com a irmã de John. Foram dez dias de filmagens em Londres e Liverpool. Eu nunca tinha ido a Inglaterra, de repente lá estava eu indo com minha mulher, com hotel em frente ao Hide Park e ainda mais com esse propósito de promover e dar uma força pros Beatles (rs) . Foi simplesmente sensacional. PP ainda nos incentivou a compor duas novas: “ Amor de Bicho” e “ Dia Comum”. Isso foi no ano de 2005, ano também de lançamento do DVD. Foi tão legal, que nosso grande amigo inglês Bruce Cherry (dono de uma empresa de turismo que nos levou em 2005 e um lorde sábio de toda história do rock), patrocinou a segunda viagem em 2006. Ainda fui baixista por uma noite, da primeira banda de John Lennon, The Quarrymen. Num intervalo de um show nosso -beneficente a ONG de Jimmy Page (ABC Trust) - The Quarrymen se apresentaria, e quando me preparava pra curtir da platéia, fui chamado - na verdade intimado - a subir ao palco... eles não levaram baixista (rs). Fiz o show todo olhando a mão do guitarrista (rs). Bom..esses são os Britos. Duas viagens internacionais, um mundo de Beatles revisitado em todos os pontos turísticos e shows históricos, muita bagunça e diversão e um DVD como registro disso tudo, chamado “Os Britos cantam Beatles”. Estamos de férias hoje... igual ao Barão rsrs.

3. Você de forma muita honesta confessou ter problemas com dependência química e começou o tratamento em 2005. Como você está hoje?

Hoje, com quase 5 anos de abstinência, confesso a você: não sinto a menor falta. Não que a vontade tenha sumido, não é isso. Esporadicamente ela pinta, cada vez menos, quase nada hoje em dia. E quando isso acontece (uma lembrança antiga mais nostálgica, etc, que não era mais o que acontecia) não chega nem perto da minha vontade de viver, me construir, cuidar da minha família, dos meus 2 filhos e compor, trabalhar, enfim, andar pra frente. No mesmo lugar que parei (reuniões de 2hs com um grupo de 40 pessoas coordenadas por 1 terapeuta), acabei me tornando coordenador e durante 3 anos exerci essa experiência também. Na verdade, aprendi que não adianta apenas tirar a bomba, tem que desmontar os fios e traçar uma nova direção. Como sempre curti também o dia e tenho um lado esportivo que nunca abandonei, fortaleci isso e a minha relação com a família, a vida, os novos objetivos, todos construídos com muita calma, sem pressa de ser feliz e com muita determinação, foco e responsabilidade com a seriedade da doença. A partir disso construí uma base forte e sólida da abstinência. Não perder o foco disso é importantíssimo, não perder o foco de você mesmo e as rédeas da sua vida. Só recai quem quer. Tem que cuidar, como um bem muito preciso. Depois fica fácil. Humildade acima de tudo. Quando digo que não sinto falta significa exatamente isso: não sinto falta de álcool pra fazer show, pra namorar, pra ir a uma festa, engraçado.... parecia impossível isso pra mim... fazer show sem beber cerveja, ir a uma festa sem encher a cara. Construí toda minha carreira solo e os 3 discos sem isso e já fiz mais de 500 shows assim. Hoje eu passei de não posso, pra não preciso. Estava muito rotineiro e atrapalhando a minha trajetória de vida, não era mais produtivo ou legal, pelo contrário, pra mim encerrou e ponto final. Vamos fazer outra coisa e bola pra frente!!!!