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Por uma cobertura ética nas eleições

Vitor Orlando Gagliardo - jornalista

govitor@yahoo.com.br


Pode-se dizer, que, 2010, caracteriza-se por ser um ano de Copa do Mundo e, principalmente, por ser um ano eleitoral. Em outubro, ocorrerá as eleições para Presidente da República, Governador e Deputados Federais e Estaduais.

Um tema fundamental nestes anos é a cobertura dos veículos de comunicação em relação aos candidatos e aos partidos políticos. A imprensa possui, historicamente, uma função social que é de informar sempre a verdade de forma imparcial. No entanto, o que se exige nos dias atuais, é uma cobertura equilibrada e, acima de tudo, ética.

Para avaliar essa cobertura jornalística, entrevistamos o jornalista Roberto Seabra, editor da Agência Câmara de Notícia, professor do Centro Universitário de Brasília e organizador do livro Jornalismo Político - Teoria, História e Técnicas (Editora Record), juntamente com o também jornalista, Vivaldo Sousa. Seabra acredita que a cobertura desta eleição não será tranquila. “A imprensa, digo a grande imprensa, vem se posicionando claramente, principalmente ao lado do principal candidato da oposição”.


Fonte: arquivo pessoal

“O mito da imparcialidade já ruiu, faz tempo. O que se pede hoje aos jornalistas, e ainda mais aos veículos de comunicação, é equilíbrio”.


1. Como você avalia a atual cobertura jornalística para as próximas eleições, em especial, a presidencial?

É cedo para fazer uma avaliação definitiva. No entanto, já é possível dizer que a cobertura não será tranquila. Como disse em artigo do livro Jornalismo Político, de 2006, a eleição de 2002 foi a única em que se viu uma coincidência total entre política e jornalismo. Nas outras eleições, quando havia equilíbrio político entre os candidatos, havia também uma imprensa posicionada, o que desequilibrava a disputa. Acho que a eleição deste ano não será equilibrada, como foi a de 2002. A imprensa, digo a grande imprensa, vem se posicionando claramente, principalmente ao lado do principal candidato da oposição.


2. O jornalismo tem uma função social. No entanto, as empresas de comunicação têm seus próprios interesses. Dessa forma, como acreditar em uma imparcialidade?

O mito da imparcialidade já ruiu, faz tempo. O que se pede hoje aos jornalistas, e ainda mais aos veículos de comunicação, é equilíbrio. Uma imprensa equilibrada, mesmo que não seja completamente imparcial, pode permitir que, cedo ou tarde, a verdade aflore na sociedade.


3. Por outro lado, se as empresas assumissem uma posição política de forma clara, não seria uma atitude mais correta com seus respectivos públicos?

Sim, claro. Nunca deixei de assinar um jornal ou ver um programa de TV em razão da ideologia do dono. Mas já cancelei assinaturas e mudei de canal quando vi tentativas de manipulação da informação.


4. Foi autorizado pelo TRE a utilização da internet para a propaganda política. Em sua opinião, como seria a melhor utilização desta ferramenta?


Pode parecer contraditório o que vou dizer, pois propaganda e verdade poucas vezes andaram juntas. Mas vejo na internet a possibilidade de o eleitor ter mais informações sobre os candidatos, e desta forma se aproximar mais da verdade dos fatos. O pior dos mundos, hoje, seria uma comunicação com milhões de pessoas e apenas uns poucos iluminados produzindo as informações.

5. Você acha que no atual cenário político, ainda há espaço para jornalistas como o Assis Chateaubriand, que chantageava políticos e mudava suas editorias de acordo com o governante?

Ainda existem jornalistas, e donos de jornais, especialmente no interior, que tentam manter acesa essa terrível chama. Mas são cada vez menos. Por outro lado, tem surgido muita contrainformação, muita gente publicando mentiras, especialmente na internet, e usando isso para tentar desestabilizar alguém, algum grupo ou algum governo. É um cenário parecido com o que ocorreu no início da imprensa no Brasil, quando coexistiram centenas de pasquins, cada um defendendo uma posição política. Até o imperador Pedro I foi vítima dessa imprensa opinitativa, tanto que usou a violência para tentar coibi-la, o que acabou piorando a situação. Mas é melhor isso, ou seja, a proliferação de páginas escritas ou na internet, do que nenhuma imprensa, ou nenhuma internet. Caberá ao e-leitor encontrar algum trigo no meio de todo esse joio.


6. Muito se comenta, ainda hoje, sobre a edição dos debates presidenciais das eleição, em 1989, onde a Globo teria favorecido o então candidato Fernando Collor, prejudicando o Lula. Como você analisa este fato? É possível uma situação destas nos dias atuais?

Possível é, mas acredito que reação seria imediata. Veja o caso das eleições na Espanha, onde o governo conservador tentou jogar a culpa por um ato terrorista no colo na oposição. A reação foi imediata e o governo em poucos dias perdeu uma eleição que estava ganha. Acho que uma manipulação grosseira igual aquela de 1989, hoje, provocaria um maremoto político.


7. Você é favorável a contratação de jornalistas sem diploma?

Sou a favor do diploma. Além de jornalista, sou professor de comunicação e sempre defenderei curso superior para o máximo de pessoas. Não me atreveria a ocupar a vaga de nenhum outro profissional, em qualquer outro ramo de atividade, que tivesse um diploma universitário, em área que não tenho formação superior. Se penso assim de outras profissões, por que não pensar assim da minha?


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