Música

Noel Rosa x Wilson Batista


Noel Rosa (1910-1937) viveu pouco, mas foi e continua sendo um dos artistas brasileiros de maior expressão. Wilson Batista (1913-1968) embora não tenha a mesma repercussão de Noel, também é um artista de grande respeito. Os dois, boêmios assumidos, protagonizaram o maior duelo da história da música brasileira por volta de 1935.


A intriga começou quando Batista compôs o samba ‘Lenço no pescoço’, uma ode à malandragem.


Meu chapéu do lado

Tamanco arrastando

Lenço no pescoço

Navalha no bolso

Eu passo gingando

Provoco e desafio

Eu tenho orgulho

Em ser tão vadio.


Noel, que não gostou nenhum pouco da associação sambista-malandro, escreveu como resposta o samba ‘Rapaz folgado’.


Malandro é palavra derrotista

Que só serve pra tirar

Todo o valor do sambista

Proponho ao povo civilizado

Não te chamar de malandro

E sim de rapaz folgado.



Batista responde com ‘O Mocinho da Vila’.

Você que é mocinho da Vila

Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais

Se não quiser perder

Cuide do seu microfone e deixe

Quem é malandro em paz

Injusto é seu comentário

Falar de malandro quem é otário

Mas malandro não se faz

Eu de lenço no pescoço desacato e também tenho o meu cartaz.


Noel não deixou por menos com ‘Feitiço da Vila’.


Lá, em Vila Isabel,

Quem é bacharel

Não tem medo de bamba.

São Paulo dá café, Minas dá leite,

E a Vila Isabel dá samba.



A famosa briga continua na letra ‘Conversa fiada’ de Batista.


É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço

Eu fui ver para crer e não vi nada disso

A Vila é tranqüila porém eu vos digo: cuidado!

Antes de irem dormir dêm duas voltas no cadeado.



Em resposta, Noel compôs uma de suas mais célebres canções, ‘Palpite Infeliz’.


A Vila é uma cidade independente

Que tira samba mas não quer tirar patente

Pra que ligar a quem não sabe

Aonde tem o seu nariz?

Quem é você que não sabe o que diz?


A acirrada disputa entre os sambistas virou uma luta particular de Batista que extrapolou na ‘Frankstein da Vila’, satirizando o problema físico (hipoplasia de mandíbula) de Noel.


Boa impressão nunca se tem

Quando se encontra um certo alguém

Que até parece um Frankenstein


Pela primeira vez, Noel não respondeu, mas Batista insistiu com ‘Terra de Cego’.


Perde a mania de bamba

Todos sabem qual é

O teu diploma no samba.

És o abafa da Vila, eu bem sei,

Mas na terra de cego

Quem tem um olho é rei.


Dessa vez, Noel respondeu e findou a discussão com ‘Deixa de ser Convencida’.


E no picadeiro desta vida

Serei o domador,

Serás a fera abatida.


Exageros a parte, o legado musical ficou para a história.

1 comentários:

Anônimo | 7 de janeiro de 2012 às 10:09

que saudade dessa geração ... imagina um duelo musical hj em dia...

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