Literatura
Livro Jerusalém colonial: judeus portugueses no Brasil holandês (Ed. Civilização Brasileira)
O livro de Ronaldo Vainfas, apresenta um estudo detalhado da história dos judeus portugueses no Brasil. O renomado historiador se valeu de fontes pouco conhecidas e documentos já estudados para relatar a formação dessa comunidade no nordeste colonial sob o governo holandês, e foi além ao mostrar as metamorfoses identitárias deste povo que viveu a diáspora dentro da diáspora.
O olhar geral e antropológico de Vainfas revela a dinâmica das redes comerciais sefarditas no capitalismo comercial do século XVII e os êxitos e fracassos destes cristãos-novos que se reconverteram ao judaísmo. Jerusalém Colonial inova ao mostrar como esta mudança teve que se adaptar às nuances do clima tropical e ao ambiente religioso inusitado provocado pelo convívio entre o protestantes e católicos. A tolerância religiosa incentivada por Maurício de Nassau propiciou a formação da primeira sinagoga da América, um espaço de disputa e tensões em Pernambuco.
As primeiras levas de imigrantes chegaram entre 1635 e 1637. Poucos anos depois, a Inquisição começa a agir e assim tem início a insurreição, que culmina com a expulsão dos holandeses em 1654. Neste curto espaço de tempo, os judeus que se instalaram no Brasil conheceram a resistência dos calvinistas e a complacência ambígua dos católicos. Recife, por certo tempo, foi a única cidade do mundo que reunia pessoas das três crenças (judeus sefarditas, católicos e calvinistas) em um único ambiente de tolerância religiosa. A prosperidade econômica incentivada pelo governante holandês permitiu que o grupo exercesse ao máximo a especial competência para o comércio e refundasse as bases da religião renegada no mundo ibérico.
Deve-se afirmar que não há registros de tamanha liberdade religiosa alcançada pelos judeus como no Brasil holandês, em especial durante o governo de Maurício de Nassau. Eles tinham o apoio dos holandeses do governo colonial ou representantes da Companhia das Índias Ocidentais (WIC) porque eram os intermediários por excelência dos negócios coloniais. A obra ainda retrata os rituais dos judeus que aqui estavam assim como suas relações com os cristãos.
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