Fé e Política

A Juventude como lugar Teológico: Um problema?
Alberto Patrício e André Barroso

O tema proposta foi antecedido por uma breve, mas importante explanação sob o olhar sociológico do termo juventude, apontando questões como: o que esse grupo social? A qual faixa etária deve estar associado para ser analisado a partir da ótica sociológica, biológica e psicológica? A conferência da UNESCO, realizada na cidade francesa de Genoble, no ano de 1964, começa a delinear o que seria a juventude. Uma preocupação, traduzida em estudos das diversas ciências relacionada a este grupo, começa a ser desenhada efetivamente a partir da década de 1960, com os movimentos de contestação à ordem estabelecida, principalmente nos EUA e Europa, no interior das universidade, com grande repercussões para os movimentos culturais, o rock como música de protesto, tendo como seu maior expoente Bob Dylan. Este movimento atinge seu auge em 1968, com as movimentações juvenis na França e, sem deixar de destacar o Brasil, que vivia o contexto da ditadura militar, as manifestações como a Passeata dos Cem Mil, demarcaram a inquietação da juventude durante este período de grandes agitações.

Comparando as gerações de 1960 e a atual, a primeira buscava uma maior liberdade e alternativas para uma mudança radical de vida e nos rumos da humanidade, usando o protesto como sua maior arma. A geração atual busca uma colocação na sociedade, incluir-se neste processo cada vez mais acirrado de competição. A luta hoje é por melhor qualificação e melhores empregos. E, quando este jovem se vê excluído, é alvo fácil, nas comunidades mais pobres, da atuação do tráfico de drogas, e nas classes médias, as gangues de lutadores e, em alguns países, o ressurgimento de movimentos neofascistas e neonazistas.

Assim, como problema sociológico, é necessário uma atuação maior no sentido da formação integral desses jovens, pois a escola também, em sua metodologia, não tem dado conta dessas necessidades das quais este grupo tanto anseia e uma inserção mais intensa dos professores neste processo de formação. Uma das constatações, em meio às intervenções dos comunicadores e do convidado Júlio Mendes inicia o desenvolvimento de sua reflexão nesse respeito.

A provocação inicial foi a de que cada vez mais os jovens estão desinteressados do processo religioso, não seguindo os preceitos que embasam doutrinalmente tais instituições, pois o que está errado: seria a apatia “natural” dos jovens em relação à demanda social ou o modelo de Igreja apresentado não traz qualquer motivação para a participação do mesmo?

Assim, Júlio Mendes nos reporta um pouco da história de engajamento da juventude na Igreja a partir da chamada Ação Católica (JAC, JEC, JIC, JOC e JUC) que deram origem à Pastoral da Juventude. As lutas e demandas atuais são de outra ordem, e a vontade de transformar socialmente a sociedade foi substituída pelos medos que compõem a agenda da sociedade em geral e da juventude em particular.

Nessa perspectiva, não deveria deixar de mencionar o “grande rodo” e, a partir disso, os rumos da PJ na Arquidiocese do Rio de Janeiro, processo iniciado no ano de 1994, quando o bispo auxiliar D. Raphael Llano Cifuentes, responsável pela juventude, destituiu toda a CAPJ (Comissão Arquidiocesana de Pastoral da Juventude), não temos clareza a respeito da tomada de atitude da cabeça da Igreja do Rio de Janeiro, mas uma coisa podemos afirmar: a maturidade política e social daquela comissão de 1994 não podia se coadunar com nenhuma atitude autoritária e anti-democrática, assim aquele processo, se não acontecesse em 1994, aconteceria nos anos seguinte. Não citaremos os nomes que compunham aquela comissão para não cometer injustiças por esquecimento de alguns.

Assim, a partir de então, a própria PJ da arquidiocese trilha por um novo rumo, pois, segundo seu bispo responsável: “A PJ é um grande guarda-chuvas, onde todos os movimentos de jovens da Igreja Católica serão contemplados”. O que se observou foi a descaracterização de uma pastoral que possuía uma organização em nível até mesmo internacional, e seus componentes tentando criar meios de “salvar” a estrutura anterior, criando grupos paralelos e o movimento chamado “Leste ZERO”, caracterizando-se como uma tentativa de “refundação” da PJ no Rio de Janeiro. Esta PJ paralela funcionou por mais um ano mas a estrutura de representação regional e nacional não comportavam tal estrutura.

Em meio a toda essa crise, toda a estrutura foi modificada, inclusive o DNJ (Dia Nacional da Juventude) tornou-se um mero encontro de bandas católicas, e os temas propostos pela estrutura nacional, a partir de assembleias com seus grupos de base, ficavam praticamente esquecidos, e, em 2005, já com a responsabilidade de D. Dimas, tentou-se resgatar as discussões e a dinâmicas dos “DNJs” anteriores, claro, até 1995. Com essa “blindagem” da Arquidiocese às determinações nacionais dos encontros da PJ, as informações relevantes ao desenvolvimento, crescimento e amadurecimento da pastoral, principalmente na formação de lideranças, não chegam até os grupos de base.

Como gerir essas novas demandas, pois até os bispos da CNBB reconhecem que “eles mesmos estão distantes da juventude e ainda não sabem como ‘chegar’ e comunicar a essa grupo importante e significativo em nossa sociedade”.

Muitos jovens que participam das instâncias religiosas, em particular a Igreja Católica, se voltam para uma religiosidade muito mais individualista e pouco engajada e comprometida com os que mais sofrem. O fenômeno Canção Nova é responsável pela divulgação desses valores, pois tem explorado com muita intensidade os meios de comunicação social e sua repercussão dá a entender à sociedade ser este o modelo único a ser seguido e que não há espaço para qualquer outra manifestação que pense diferente, homogeneizar tudo ao máximo, não relacionar assuntos que dizem respeito à política, principal alvo de críticas destes movimentos às ações da Igreja, em especial nas décadas de 1970 e 1980 e que o fenômeno da chamada “Teologia da Prosperidade” lança a idéia de que, cada vez mais, a busca pelo bem estar pessoal.

Enfim, o empenho atualmente é criar mais espaços para que os jovens manifestem suas características, seus anseios, e que a cultura pode ser esse meio pelo qual tanto temos dificuldades de compreender, em especial às manifestações predominantes nas comunidades menos favorecidas de nosso país.

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