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“O Fluminense só pode perder para ele mesmo”

Em uma entrevista muito animada, o jornalista José Ilan falou de sua carreira, campeonato brasileiro, seleção brasileira e manteve o mistério sobre o time que torce. De forma profética, o ‘PolvoIlan’ decretou que o Fluminense será o próximo campeão brasileiro. Confira, abaixo, essa entrevista exclusiva para o Blog Desburocratizando.



1. Como surgiu seu interesse pelo jornalismo?

Eu fiz faculdade de comunicação em 1988 e, no começo, minha escolha era por publicidade e propaganda. Cheguei há cursar um semestre ou dois. Fiquei dividido com jornalismo e resolvi mudar sem muita certeza. Depois que mudei, jamais tive dúvida de ter tomado a decisão certa. Comecei com TV independente entre 1988 e 89 em um programa de esportes radicais, o Realce, uma espécie de avô do Zona de Impacto (Sportv). Depois disso trabalhei em rádio esportiva e fiz estágio na TV Globo. As coisas foram amadurecendo e acabei me firmando como jornalista.

2. Qual foi o momento mais marcante em sua carreira?

Foram as duas finais de Copa do Mundo que participei, em 1998. na França. e em 2010. na África do Sul. Estar na final de uma Copa do Mundo é estar no centro de tudo. É um momento que você se sente privilegiado. Você está em um local onde muitos dariam uma fortuna para estar e você está de graça e ganhando por isso e ganhando bem. Você chega ao topo da profissão, que, no meu caso, é estar em uma final de Copa do Mundo, que é um marco do esporte. Foi muito bom também quando fiz Olimpíada. Lembro também de uma entrevista que fiz com Ayrton Senna antes do GP do Brasil de 1993 que ele venceu. Na coletiva antes da corrida, com jornalistas do Brasil e do mundo inteiro, fiz uma pergunta e a resposta dele foi manchete em diferentes jornais. Na época o Prost era o grande favorito e o Senna corria por fora. Fiz uma pergunta simples. Perguntei se tinha favorito para a corrida. E ele me respondeu: ‘O Prost é o favorito, mas eu sou o favorito do coração’.

3. Qual o momento que não foi legal como profissional?

Não sei responder de primeira. Teria que pensar melhor, pois não lembro nada à primeira vista. O que tem são coisas que a gente não gosta de fazer. Por exemplo, não gosto de fazer eleição de clube. Não gosto de política, muito menos de política de clube. Me interesso porque faz parte da profissão e como cidadão, mas não gosto de cobrir. Tem coisas que não gosto de fazer, mas são coisas da profissão. Agora, um momento ruim, assim específico não me ocorre. Tem momentos que você acha que errou na mão. Momento ruim é quando você, por algum motivo, acha que errou, que não foi satisfatório ou que não deu conta de um trabalho ou atrasou um prazo.

4. Para o ‘PolvoIlan’ quem será o campeão o Brasileiro?

Acho que será o Fluminense. Está muito difícil de perder. O Fluminense só pode perder para ele mesmo. Acho que está havendo um pouco de confiança em excesso, não dos jogadores, pois o Muricy sabe blindar bem o time, mas acho que a diretoria poderia ter blindado melhor o time. Saiu uma matéria no GloboEsporte.com com o Berna e o Félix onde ele mostrava as mãos de campeão. Ainda não é o campeão. Honestamente, o time do Fluminense não inspira confiança. Essa que é a verdade. Não digo que não mereça ser campeão, mas não é um time regular. Contra o Goiás ele quase perdeu o jogo, no Engenhão, já nessa batida. Eu acho que vai ser campeão, mas ainda não é. Acho importante lembrar e tenho certeza que o Muricy está lembrando a todo momento.

5. Você acha que essa polêmica da mala branca e da entrega dos jogos tira o brilho do campeonato e do futuro campeão?

Não. Todas essas coisas que aconteceram não tiram o brilho. O que tira o brilho são as coisas irregulares. A mala branca é irregular quando oficialmente descoberta ou declarada. A mala branca é igual ao jogo do bicho: todo mundo sabe que é ilegal, mas ta aí. Eu acho que não tira o brilho se não iria tirar o brilho de todos os campeões anteriores, pois eu duvido que em uma situação minimamente próxima, não tenha havido mala branca.

6. O problema são os exageros como os da semana passada quando o goleiro do Palmeiras, Deola, no jogo contra o Fluminense, era ofendido pela própria torcida a cada defesa.

Eu escrevi sobre isso. Acho que São Paulo e Palmeiras facilitaram para o Fluminense. Não é irregular o que eles fizeram, até porque não há nada que comprove que eles tenham facilitado. Não é proibido facilitar. É uma conduta antidesportiva, antiética, mas é uma conduta que está dentro da possibilidade do que permite as regras do futebol. Irregular é o time ganhar com um pênalti irregular, com um jogador que não poderia estar em campo. O Fluminense talvez não tivesse vencido São Paulo e Palmeiras se eles não quisessem ajudar. Isso é verdade e não é irregular. Agora, o Fluminense não tem culpa nenhuma. O Corinthians tem que reclamar com São Paulo e com o Palmeiras e, certamente, no próximo ano, se o Corinthians tiver a oportunidade de devolver, vão devolver na mesma na mesma moeda e não vão se queixar.

7. Você que esteve com a seleção brasileira na Copa do Mundo da África do Sul na cobertura do dia-a-dia, o que faltou para aquela equipe trazer o título?

Faltou muita coisa. A seleção brasileira, de uma certa forma, tem semelhanças com este time atual do Fluminense. A seleção brasileira poderia ter sido campeã, mas não foi. Poderia ter sido, mas não seria uma surpresa se não fosse. Esse time do Fluminense é a mesma coisa. Ele, por acaso, vai ser campeão até merecidamente, mas ele é um dos que poderiam ser. Não é destacadamente o melhor time do campeonato. Não é um time confiável. Se aquela seleção fosse campeã, também não seria nada demais. Não tinha um fio condutor que dissesse que o time era confiável. Não tinha a consistência, como, hoje, tem o Cruzeiro nessa reta final que também não é brilhante, mas é mais consistente dos times que estão brigando pelo título. O próprio Corinthians é mais consistente que o Fluminense. Eu acho que a equipe do Dunga tinha coisas parecidas com a do Muricy: é um pouco irregular, falha e tem umas coisas imprevisíveis. Contra a Holanda até jogou bem o primeiro tempo e, de repente, deu um apagão no segundo tempo. Foi bem emblemática do que era essa seleção: irregular, imprevisível e não confiável. O que não quer dizer que era toda ruim e não pudesse ser campeã.

8. Você acha que fatores extracampo podem ter atrapalhado o rendimento da seleção?

Sinceramente, eu acho que era muito inapropriado o comportamento extracampo da comissão técnica. Mas se eu disser que isso influenciou em campo estaria mentindo. Acho que não. O tratamento com a imprensa não ganha ou perde jogo. É uma questão de educação, de formação. Ele poderia ter sido campeão mesmo sem educação ou tratando mal a imprensa. Perdeu porque ele era um técnico inexperiente. Na verdade, ele nem era técnico. É como colocar um estudante de jornalismo e coloca-lo, como primeiro emprego, para apresentar o Jornal Nacional. Não é lógico. Não é uma coisa que faça sentido. E pegaram o Dunga que jamais foi treinador e o transformaram em técnico da seleção brasileira. Não pode dar certo. Por mais esperto que ele seja, por mais valor que ele tenha, embora eu acho que ele não tenha, mas por mais que tivesse, ele não é um zero à esquerda, foi bom jogador de futebol, ele pode vir a ser um bom técnico, mas ainda não é. Um jornalista não começa a profissão sabendo tudo. Não pode assumir uma responsabilidade imensa no primeiro emprego. Era muito provável que alguma coisa desse errado. Ele não tem experiência. Não é falta de capacidade. É falta de experiência.


9. Será por isso que ele ainda arrumou emprego após a Copa?

É um fator muito simbólico do quanto que as pessoas confiam nele.

10. E a seleção do Mano?

O Mano já é um caso diferente. Acho até que ele é valorizado demais. É um cara muito polido, educado e de ótimo nível. Eu mesmo já escrevi sobre ele o elogiando muito. Mas eu não acompanho essa valorização excessiva de parte da imprensa. Não acho que ele deveria incontestavelmente o primeiro nome da seleção brasileira, como não foi - foi o Muricy. Acho até que a CBF foi muito coerente. Mas, confesso que o Mano me agrada muito como pessoa e como treinador. Tem maturidade, mas ainda falta um pouco mais de experiência como treinador de time de primeira divisão. Acho que a seleção está muito bem entregue. A principal virtude do Mano é que ele sabe ouvir. Ninguém tem dúvida de que seja ela quem manda, mas ele sabe ouvir para até para tomar decisões.

11. Você acha que a volta de Ronaldinho Gaúcho e de outros medalhões seja o caminho natural da seleção?

Eu acho uma tentativa. Não sei se esse é o caminho para daqui a quatro anos. Mas ele só vai saber testando. O Kaká, hoje, se você me perguntar, acho que estará na Copa de 2014. Não sei se daqui a um ano se terei a mesma opinião. Vai depender da recuperação dele após a cirurgia. Pode ser que ele volte não jogando bem. Não jogou uma boa Copa da África. Foi razoável para regular, do nível da seleção brasileira. Acho que ele não vai poder jogar até 2014 só com o nome. Ele ainda tem como ficar na seleção só pelo nome, mas acho que só mais uns seis meses. Se não voltar a ser o Kaká que conhecemos não vai ficar. Acho que o Mano está certo. Ele está testando possibilidades para a próxima Copa. Não pode é descartar o Kaká, o Ronaldinho Gaúcho ou o Daniel Alves. Daqui a dois anos, acho que teremos uma boa idéia do time que poderá ir à Copa. Ainda está muito cedo.

12. Por que os torcedores cismam em saber qual o seu time?

(Risos). Eu não sei. Essa é uma pergunta feita a todo jornalista esportivo. Eu acho normal essa curiosidade dos torcedores. Quer ver um exemplo: eu, quando tenho um pouco mais de contato com o jogador, pergunto qual o time dele. É curioso saber o time da pessoa que trabalha profissionalmente com o futebol. Quando entrevistei o Vagner Love, quando ainda jogava no Palmeiras, ele me disse que o time de coração dele era o Flamengo.

13. O curioso é que toda torcida acredita que você torça para um time a partir do que escreve e ela pode mudar de opinião no dia seguinte.

Tem torcedor que tem complexo de perseguição. Quando um torcedor do Fluminense, Flamengo, Botafogo ou Vasco falam mal é indiferente para mim. É uma prova de que estou fazendo bem meu trabalho por que ninguém consegue tirar conclusão alguma. Obviamente que todo mundo tem um time. Mas você precisa realmente focar na hora que está escrevendo para não se deixar influenciar por isso. Como repórter de campo já atuei em jogos do meu time, de outros times, mas na hora a gente não lembra de nada. Mas já estou acostumado com essa situação. Às vezes incomoda um pouco. Tem gente que se sente perseguida o tempo todo, mas nem me aborreço mais. O cara xingar e querer que seja publicado, não vai. Pode discordar sem problemas.

7 comentários:

Anônimo | 3 de dezembro de 2010 às 10:27

fique sabendo que o Fluzão será TRI!!!!!!!!!

Anônimo | 3 de dezembro de 2010 às 10:56

Parabéns pelo seu trabalho. Sou seu fã.

Anônimo | 3 de dezembro de 2010 às 13:04

todo mundo sabe que vc é fluminense

Anônimo | 3 de dezembro de 2010 às 13:23

O Flu merece mais do que qualquer um esse título.

ST

Anônimo | 3 de dezembro de 2010 às 13:29

ele tem razão: o flu já oscilou demais.

agora não pode mais errar.

Anônimo | 4 de dezembro de 2010 às 10:44

Esse time do Fluzão é muito melhor que a seleção do Dunga.

Anônimo | 4 de dezembro de 2010 às 11:31

Gosto muito da sua coluna.
o PolvoIlan é muito bom.
Parabéns

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