Entrevista

Trajetória da imprensa gay

O entrevistado de hoje é o designer gráfico, mestre em design e doutor em literatura comparada. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFRJ e da faculdade de moda do SENAI/CETIQT. Seu nome é Jorge Caê Rodrigues. Em seu segundo livro, antes já havia lançado ‘Anos fataisdesign, música e tropicalismo’, ele aborda a trajetória da imprensa gay no Brasil, desde o jornal ‘O lampião da esquina’ (1978-1981) até a revista ‘Sui Generis’ (1995-2000). Confira abaixo a entrevista exclusiva onde o autor fala sobre seu novo livro ‘Impressões de identidade: um olhar sobre a imprensa gay no Brasil’ (Editora da UFF).


1. Neste trabalho, você parte do jornal O Lampião da esquina
(1978-1981) até a revista Sui Generis (1995-2000). Do ponto de vista
editorial, qual a diferença básica entre esses dois veículos?

Estamos falando de dois periódicos com apresentações diferentes. O Lampião era um jornal, (com suas especificidades); a Sui uma revista que também tem especificações. Estou falando em visualidade e seu papel dentro do universo das midias, mas, em termos editoriais, o jornal buscava um lugar; buscava uma discussão que envolvia, não só os gays, mas também os negros, mulheres, ecologistas. O Lampião surge no fim da ditadura, no momento em que começava a abrir espaço para discussões que envolviam não só questões partidárias (fim da ditadura), mas, principalmente, sobre as novas possibilidades de comportamento que já haviam chegado ao Brasil, via teatro, música, contracultura etc ... A homossexualidade ainda era um assunto que a sociedade tentava invisibilizar. Quando a Sui aparece, são outros tempos. A Aids tinha obrigado a sociedade a discutir a sexualidade. A homossexualidade não era algo distante, podia acontecer com seu filho, assim como acontecia com artistas. A Sui apresenta uma nova possibilidade para os gays, que são as revistas de comportamento. A Sui fala de assuntos, tais como moda, que não tinham espaço no Lampião. Além disso, é um momento que os gays já não são vistos como causadores da Aids. É um momento de orgulho, de ativismo, de tornar-se cada vez mais visível para a sociedade.

2. Falando especificamente do jornal O Lampião da Esquina, mesmo com a
censura mais branda no final dos anos 80, como esse veículo foi aceito
pela sociedade?

Não afirmaria que ele foi aceito pela sociedade. A grande massa não comprava o jornal, mas ele foi aceito por parte da intelecutalidade. O jornal produzia grandes entrevistas com nomes importantes do cenário sócio-político-artístico brasileiro (Gabeira, Lula, Norma Benguel e outros). Seria importante pesquisar o que aconteceu no fim da sua vida, quando as editorias assumem um aspecto mais popularesco. De qualquer forma, era um momento que a ‘imprensa marginal’ fazia parte do cotidiano de certos leitores.

3. Na sua opinião, como que a mídia tem lidado com os temas relativos
ao homossexualismo? Acredita que há um demasiado sensacionalismo?

Sexo sempre dá ibope,e hoje há mais liberdade para tratar do assunto. Daí que muitas vezes uma discussão sobre o assunto pode facilmente tornar-se algo sensacionalista, mas, não sou contra que a TV apresente personagens gays. Se não for tendencioso, pode e deve mostrar. Penso que temas como tais devem ser discutidos, pois é a única forma para que possamos aprender como mostrar, como fazer, pois como disse no inicio, por muito tempo os homossexuais foram invisibilizados pela sociedade.

4. Do ponto de vista comercial, você acredita que há interesse das
grandes empresas no investimento em espaço publicitário para novos
veículos voltados para o público homossexual?

É uma coisa nova! Já temos exemplos no mercado (Revista Junior) de grandes nomes fazendo anuncio para o publico gay (Tam, Fnac, etc). Hoje temos revistas bem sucedidas, nas quais o espaço publicitário já tem um peso importante. O interesse comercial virá quando os dois lados da moeda (mercado versus publico) entender a importância do valor da compra e venda, umas das armas que os gays americanos usaram e usam para exigir seu espaço social é o poder de compra. Eu não tenho dúvidas que quando o preconceito diminuir as empresas vão investir mais nesse segmento.

2 comentários:

Anônimo | 25 de novembro de 2010 às 23:17

não sou homossexual, mas respeito o direito alheio. Boa reportagem.

Anônimo | 29 de novembro de 2010 às 13:50

não conhecia, mas me interessei pelo jornal O lampião da esquina.

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