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21 anos depois

Vitor Orlando Gagliardo - jornalista

govitor@yahoo.com.br


Já se passaram 21 anos, mas qual botafoguense poderia esquecer aquela noite de 21 de Junho de 1989? Milhares de torcedores alvinegros, após 21 anos de sofrimento, puderam encher de força o peito e gritar com toda a sua força ‘é campeão’. E Campeão de forma absoluta, de forma invicta. E principalmente, de forma heróica.


Os bastidores dessa história são narrados no livro ’21 depois de 21’ (Ed. LivrosdeFutebol.Com), assinados pelos jornalistas botafoguenses, Rafael Casé e Paulo Marcelo Sampaio.


No Campeonato Carioca daquele ano, o Flamengo venceu a Taça Guanabara e o Botafogo venceu a Taça Rio. Por ter uma melhor pontuação no campeonato geral, o alvinegro levou um ponto extra para a decisão final, realizada em duas partidas.


O primeiro jogo da decisão, realizado no dia 18 de junho, terminou empatado sem gols. De acordo com Paulo Marcelo Sampaio, esse resultado deixou a torcida mais confiante, pois o ataque rubro-negro foi anulado. “Vale lembrar que Zico foi completamente anulado pelo Luisinho que não o deixou jogar. A marcação foi tão implacável que nosso meio-campo teve de ser substituído por Mazolinha. E o Mazola manteve a vigilância sobre o Zico”.


O esquema adotado pelo técnico Espinosa foi duramente criticado por Zico e Telê Santana que chamaram o alvinegro de violento. “Os jogadores do Botafogo, com muita personalidade, não entraram na provocação. Não aceitaram essa tese e não se cansavam em repetir que jogariam duro, sem dar moleza, mas nunca se esquecendo da lealdade”.


A semana que antecedeu o jogo final foi destaque na mídia. Sampaio acredita que os meios de comunicação favoreceram o Flamengo nas coberturas, apontando-o como favorito. “A imprensa, pra vender mais jornal, costuma tratar nosso maior rival com muito oba-oba. Em 89 não foi diferente. Mas fazia um certo sentido, porque o clube da Gávea tinha jogadores com passagens pela seleção como Jorginho, o Aldair, o Leonardo, o Ailton, o Zico, o Bebeto... E nós tínhamos um grupo coeso, mas sem grandes nomes. Eles eram o Golias e nós o Davi. E o final foi como na Bíblia”.


No segundo jogo, no dia 21 de Junho, o Botafogo quebrou dois tabus: o primeiro ter vencido o todo poderoso Flamengo (após três empates na competição) com um gol do ponta Maurício aos 12 minutos do segundo tempo; e o segundo foi o grito entalado de campeão após 21 anos de escrita.


Um dos maiores destaques daquele título e eterno ídolo da torcida alvinegra, o atacante Paulinho Criciúma, descreve a o sentimento de alívio após o apito final. “O fim de um pesadelo que atormentava milhões de Botafoguenses espalhados pelo mundo. O choro de tantos, o sorriso de milhões, o olhar alegre e leve dos torcedores, a gratificação e felicidade de fazer parte de uma conquista histórica. Uma volta olímpica no Maracanã é para poucos”.


De acordo com Sampaio, o grande diferencial daquele time alvinegro era o comprometimento dos jogadores e a consciência de suas limitações. “Eles mostravam uma grande solidariedade dentro de campo. Se cobravam uns aos outros. Quando alguém fazia algo errado, os jogadores conversavam entre eles, com, o cuidado de nada vazar para a imprensa e resolviam o problema. Por isso se aplicavam ainda mais. E o resultado não podia ser diferente”.


Os botafoguenses mais novos, talvez, não saibam a importância daquele título. Após 89, o clube conquistou inúmeros títulos como um Campeonato Brasileiro e o Estadual deste ano, por exemplo. Mas quem viveu aquela época, sabe o quanto foi difícil o longo jejum e a alegria do emocionante grito de campeão.


Depoimentos


“A conquista de 1989 foi a mais marcante, inclusive, sob o aspecto emocional, mais impactante até do que a do Campeonato Brasileiro de 1995 porque foi a partir dela, a de 1989, que o Botafogo voltou a se sentir apto a conquistar títulos e os conquistou, aliás vários deles (até o nosso mais recente título de 2010), conquistas essas que, insisto, reputo ao despertar trazido pelo título de 1989”.

José Mauro Filho - vice-jurídico do Botafogo


“Meu interesse pelo Botafogo começou com o título carioca de 1968, quando tinha apenas sete anos. Devido a minha família, cresci vendo jogo do Fluminense, mas não me sentia atraída. A torcida do Botafogo fazia meu coração bater mais forte. Infelizmente, sou de uma geração sem títulos. Em 89, tinha 28 anos e estava grávida minha primeira filha. Meu marido que é flamenguista estava dormindo na hora do jogo. Quando o Maurício fez o gol, fiz um escândalo e o acordei. Foi um grito que estava entalado há anos. Fiquei tão emocionada que meus filhos viraram botafoguenses”.

Sonia Maria Colonese de Magalhães - fonoaudióloga


“Naquela noite fui ao maracanã desconfiado, sem querer acreditar que o jejum pudesse acabar. Não pensava em outra coisa: ia pra faculdade, almoçava, voltava pra casa, jantava e dormia pensando no Botafogo. Era muita ansiedade pra mim, já que, aos 21 anos, nunca tinha sentido o gostinho de gritar é campeão!”

Paulo Marcelo Sampaio - jornalista e um dos autores do livro ‘21 depois de 21’


Entrevista com Paulinho Criciúma


Ele foi um dos grandes nomes da conquista Campeonato Carioca de 1989. O atacante Paulinho Criciúma falou ao Blog Desburocratizando sobre os bastidores e a épica final que deu fim ao jejum de 21 anos sem títulos do Botafogo.


1. O que aquele time de 89 tinha de diferente?

Aquele elenco, o time tinha unidade e força mental, homogeneidade, disciplina tática e uma vontade imensa de ser campeão. Tinha a humildade dos que conhecem seus limites técnicos mas achava, acreditava e no íntimo tinha a certeza que tudo era capaz, o título era possível como foi em cima de uma "seleção".


2. Como foi o bate-papo do time no vestiário antes do jogo?

De otimismo e apoio moral ao companheiro numa congratulação de abraços, acreditando e desejando a vitória e força mental e física. O significado daquele jogo mais importante na vida de tantos. O abraço final para subirmos ao descer para o túnel e subir as escadas para ir para uma guerra que saberíamos vencedores por tudo que tínhamos feito ao longo das 23 partidas anteriores.


3. Qual foi o momento mais marcante da conquista?

O apito final. A descarga de um mundo em nossas costas. O fim de um pesadelo que atormentava milhões de Botafoguenses espalhados pelo mundo. O choro de tantos, o sorriso de milhões, o olhar alegre e leve dos torcedores, a gratificação e felicidade de fazer parte de uma conquista histórica. Uma volta olímpica no Maracanã é para poucos. Esse mundo novo depois de 21 anos foi e é inesquecível até hoje.

2 comentários:

Anônimo | 7 de julho de 2010 às 18:13

viva o fogão!!

Anônimo | 8 de julho de 2010 às 16:33

Foi campeão com um gol roubado. O jogador do BFR empurrou o defensor do Falamengo.

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