Especial

Do Papa Bento XVI aos padres do mundo todo - Ásia

Pe. Cleneu Magri - Vigário da Paróquia Sangue de Cristo

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P. – Santo Padre, sou Pe. Atsushi Yamashita e venho da Ásia, precisamente do Japão. O modelo sacerdotal que Vossa Santidade nos propôs neste Ano, o Cura d’Ars, vê no centro da existência e do ministério a Eucaristia, a Penitência sacramental e pessoal e o amor ao culto, dignamente celebrado. Tenho diante dos olhos os sinais da pobreza austera de São João Maria Vianney e ao mesmo tempo da sua paixão pelas coisas preciosas para o culto. Como viver estas dimensões fundamentais da nossa existência sacerdotal, sem cair no clericalismo ou numa estraneidade à realidade, que o mundo hoje não nos permite?


R. – Obrigado. Portanto, a pergunta é como viver a centralidade da Eucaristia sem se perder numa vida meramente cultual, alheios à vida de todos os dias das outras pessoas. Sabemos que o clericalismo é uma tentação dos sacerdotes em todos os séculos, também hoje. Muito mais importante é encontrar o modo verdadeiro de viver a Eucaristia, que não é um fechamento ao mundo, mas precisamente abertura às necessidades do mundo. Devemos ter presente que na Eucaristia se realiza este grande drama de Deus que sai de si mesmo, deixa – como diz a Carta aos Filipenses – a sua própria glória, sai e desce até ser um de nós e desce até à morte na Cruz (cf. Fl 2). A aventura do amor de Deus, que deixa, se abandona a si mesmo para estar conosco – e isto torna-se presente na Eucaristia; o grande ato, a grande aventura do amor de Deus é a humildade de Deus que se doa a nós. Neste sentido a Eucaristia deve ser considerada como o entrar neste caminho de Deus. Santo Agostinho diz, no De Civitate Dei, livro X: “Hoc est sacrificium Christianorum: multi unum corpus in Christo”, isto é: o sacrifício dos cristãos é estar congregados pelo amor de Cristo na unidade do único corpo de Cristo. O sacrifício consiste precisamente em sair de nós, em deixar-nos atrair pela comunhão do único pão, do único Corpo, e deste modo entrar na grande aventura do amor de Deus. Assim devemos celebrar, viver, meditar sempre a Eucaristia, como uma escola da libertação do meu “eu”: entrar no único pão, que é pão de todos, que nos une no único Corpo de Cristo. E por conseguinte, a Eucaristia é, em si, um acto de amor, obriga-nos a esta realidade do amor pelos outros: que o sacrifício de Cristo é a comunhão de todos no seu Corpo. E por conseguinte, deste modo devemos aprender a Eucaristia, que de resto é precisamente o contrário do clericalismo, do fechamento em si mesmo. Pensemos também em Madre Teresa, deveras o exemplo grande neste século, neste tempo, de um amor que se deixa a si mesmo, que deixa qualquer tipo de clericalismo, de estraneidade ao mundo, que vai ao encontro dos mais marginalizados, dos mais pobres, das pessoas que estão próximas da morte e se entrega totalmente ao amor pelos pobres, pelos marginalizados. Mas Madre Teresa, que nos ofereceu este exemplo, a comunidade que segue os seus passos supunha sempre como primeira condição de uma sua fundação a presença de um tabernáculo. Sem a presença do amor de Deus que se doa não teria sido possível realizar aquele apostolado, não teria sido possível viver naquele abandono de si mesmos; só inserindo-se neste abandono de si em Deus, nesta aventura de Deus, nesta humildade de Deus, podiam e podem realizar hoje este grande ato de amor, esta abertura a todos. Neste sentido, diria: viver a Eucaristia no seu sentido originário, na sua verdadeira profundidade, é uma escola de vida, é a proteção mais segura contra qualquer tentação de clericalismo.

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