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‘A Copa de 90 foi o momento mais triste de minha carreira’
Vitor Orlando Gagliardo - jornalista
govitor@yahoo.com.br
Com o seu físico franzino, José Roberto Gama de Oliveira, mais conhecido como Bebeto, destacou-se pela valentia e habilidade em campo, tornando-se um dos melhores atacantes mundiais. Ao lado de Romário, formou um dos melhores ataques da história e conquistou o Campeonato Mundial de 1994, após 24 anos de jejum.
Bebeto começou sua carreira, em 1982, no Vitória. Rapidamente, sua carreira deslanchou passando com destaques e títulos por Flamengo e Vasco. Transferiu-se em 1992, para o La Coruna (Espanha), onde foi tratado como herói.
Pela seleção brasileira, Bebeto começou sua carreira bem cedo, participando desde as categorias de base. Seus maiores triunfos foram a conquista da Copa América de 1989 e a Copa do Mundo de 94. O jogador ainda disputou a Copa de 90 e de 98, obtendo um vice-campeonato
No final do ano passado, o craque foi apresentado como técnico do América-RJ, a convite de Romário, mas manteve-se pouco tempo no cargo.
Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, Bebeto falou sobre seleção brasileira, sua carreira como jogador e treinador e, mais uma vez, confessou ser o Flamengo o clube do coração.
1. Você comandou o América em oito jogos, sendo três vitórias, um empate e quatro derrotas. Não achou sua demissão um tanto precipitada?
Um pouco. A gente estava realizando um trabalho de muita qualidade, que foi iniciando em dezembro, quando estávamos realizando peneiras para levar jogadores para o clube. Só tinham nove jogadores quando eu fui contratado e o time foi ganhando corpo ao longo do Campeonato Carioca. Além disso, realizamos jogo duro contra o Botafogo, que acabou campeão Carioca. A campanha e os números falam por mim.
2. De certa forma, essa demissão abalou sua amizade com o Romário?
Não. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tem de saber dividir amizade com trabalho. Graças a Deus, isso aconteceu sem problemas. É claro que a gente fica chateado, mas amizade continua. Demissão de treinador no Brasil é assim mesmo.
3. Você pretende continuar como técnico? Tem recebido propostas?
Quero continuar a carreira como treinador. As propostas estão chegando e estou analisando da melhor maneira possível. Quero fazer a escolha certa.
4. Fale um pouco mais sobre o projeto Instituto Bola para Frente, uma parceria sua com o Jorginho (auxiliar técnico da Seleção Brasileira).
É um projeto vitorioso que busca dar oportunidade para essas crianças do nosso país. O esporte e o futebol formam cidadãos e com esta mentalidade que trabalhamos.
5. Se você fosse o técnico da seleção brasileira, levaria o Ronaldinho Gaúcho?
É algo muito complicado. Principalmente porque Dunga é um amigo pessoal. O que posso dizer sobre o assunto é que Dunga é uma pessoa coerente e de caráter. O Ronaldinho tem chance, pois já foi chamado por ele em outras oportunidades.
6. Você já atuou em três Copas do Mundo. Em 90, estava machucado e ficou no banco; em 94, foi campeão e o craque da Copa com o Romário; e em 98, amargou o vice-campeonato. Qual foi o momento mais especial com essa experiência?
O momento mais especial foi em 1994. O Brasil estava muito tempo sem conquistar o mundial e ainda tínhamos perdido naquele ano um herói brasileiro, que era Ayrton Senna. Aquela Copa está marcada para sempre na minha carreira.
7. E o mais triste?
O mais triste pode ser considerado a Copa de 1990, pois praticamente não joguei. E ninguém gosta de ir para uma Copa para ficar como expectador.
8. O que você acha que faltou para aquele time chegar ao título?
Faltou amadurecimento. E a prova disso foi na Copa seguinte. Em 1994 foi o momento de coroar a geração de 90.
9. Você chegou a dizer na época que o técnico Lazaroni foi desonesto com você. Acha que poderia ter sido melhor aproveitado?
Acredito que sim. Mas, isto é passado. Conquistei tantas coisas depois de 90 que isto virou parte do passado.
10. Aquela seleção ficou marcada por fatores extra-campos como por exemplo, o certo em relação ao valor do bicho. Até que ponto esses problemas influíram no rendimento do time?
Muita gente fala demais e não sabe como era o ambiente da Seleção. O Brasil não fez uma boa campanha, pois o time não estava amadurecido. Aquela Copa serviu de aprendizado.
Atrapalhou, pois era um jogador que a gente contava e estava fazendo uma Copa do Mundo perfeita. Além disso, todo mundo ficou temendo pela saúde do Ronaldo. Por isso, atrapalhou....
12. Por que você acha que ainda se especula teorias conspiratórias para aquela final?
As pessoas não aceitam as derrotas. Por isso, inventam coisas que nunca existiram.
13. Você poderia dar um ponto final nessa história, dando sua versão sobre o caso?
O Ronaldo passou mal e teve a famosa convulsão. Foi levado para o hospital e estava vetado da partida. Quando ele estava no vestiário (minutos antes de subir para o gramado) ele pediu ao Zagallo para jogar, pois já estava se sentindo melhor. O médico da Seleção avaliou Ronaldo e deu o o.k para o Zagallo. A partir daí ele foi confirmado como titular.
14. Você se destacou nos três grandes clubes do Rio (Vasco, Flamengo e Botafogo) e no La Coruna. Qual desses marcou mais você e por qual motivo?
Todos os clubes eu guardo com carinho. No Vasco fui campeão Brasileiro em 1989, no Flamengo não precisa nem comentar. É o meu clube de coração, foi lá que encontrei a Denise, hoje minha esposa e mãe dos meus três filhos. No Botafogo, fui vice campeão da Copa do Brasil e por fim no La Coruña fui tratado como rei. Até hoje sou tratado com muito respeito e carinho.
15. Vai começar o Brasileirão. Quem você acha que entra como favorito?
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Ficha técnica
Nome: José Roberto Gama de Oliveira
Nascimento: 16/02/1964, Salvador
Principais clubes: Vitória, Flamengo, Vasco da Gama, La Coruna e Botafogo
Pela seleção brasileira: 88 jogos e 52 gols
Treinador: América-RJ
Principais títulos: Campeonato Brasileiro pelo Flamengo (1983) e Vasco (1989); Copa União pelo Flamengo (1987); Ramón de Carranza pelo Vasco (1989); Copa da Espanha, Supercopa da Espanha e Teresa Herrera (todos em 1995) pelo La Coruna; Copa do Nordeste (1997) pelo Vitória; e Torneio Rio-São Paulo (1998) pelo Botafogo.
Pela seleção brasileira: Campeonato Mundial sub-20 (1983); Jogos Panamericanos (1987); medalha de prata nas Olimpíadas de Seul (1988) e bronze em Atlanta (1996); Copa América (1989); Copa do Mundo (1994); e Copa das Confederações (1997).
Prêmio: Bola de Prata (1992)
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