EXCLUSIVO
Marcelo Fróes: o guardião dos acervos 1ª Parte
Vitor Orlando Gagliardo - Jornalista
govitor@yahoo.com.br
1. Como surgiu esse interesse de trabalhar com pesquisas?
2. Você poderia explicar para nossos leitores, como funciona seu trabalho?
Bem, é um trabalho de pesquisa... e exige paciência, porque música se aprecia em tempo real. E é preciso ter equipamentos para rodar fitas obsoletas... e a confiança de artistas e gravadoras para ter acesso a material tão precioso. Inúmeras vezes flagrei-me ouvindo coisas que com certeza ninguém havia ouvido desde a gravação, e com a certeza de que muito dificilmente alguém ouviria novamente. Hoje eu tenho certeza absoluta disso, porque as gravadoras desfizeram-se de suas espaçosas sedes e os arquivos, que estavam mais a mão, hoje estão encaixotados em depósitos terceirizados à beira de rodovias. Enfim, coisas do mercado.
3. Qual o trabalho foi mais difícil?
Difícil dizer, talvez os primeiros, porque tive que explicar para as gravadoras o que eu pretendia fazer nos acervos. Gilberto Gil foi o primeiro artista a endossar minhas idéias, na época ele dizia que eu seria um "guardião" dessas coisas. Um tempinho depois, vendo o trabalho que eu tinha para convencer as pessoas, Raimundo Fagner disse que eu era um "lobista". Por último, mais recentemente, vendo que trabalho em muitos projetos que não visam lucro, Zé Ramalho começou a dizer que sou um "romântico"!
4. Percebe-se em seu trabalho a variedade de gêneros musicais. É essa a idéia?
5. Tem algum trabalho que te decepcionou de alguma forma?
Pra mim foi muito chato fazer uma trilogia de CDs com todas as 52 canções que Raul Seixas fez na época em que era produtor da CBS (1970-1972) e ver os discos serem quebrados porque um advogado pediu uma grana braba para autorizar, caso contrário processaria a gravadora por uso indevido de imagem e blá blá blá. Tive muitos prazeres nestes 20 anos, felizmente... e a única vez que tive problemas foi quando um gerente de gravadora resolveu retirar meu crédito da contracapa de uns discos que eu havia preparado, quando já estava pronto pra sair, argumentando literalmente: "Você não é nenhum Nelson Motta pra ter crédito em contracapa!". Os discos saíram com um vazio absurdo na contracapa, por causa disso, mas este cara já foi extirpado do mercado fonográfico.
6. Quais são os próximos projetos?
Por conta da dificuldade por que atravessa a indústria fonográfica já há alguns anos, e para continuar trabalhando no que gosto e sei fazer, criei o selo Discobertas há 2 anos e já produzi o que tive vontade. Já tive o privilégio de lançar CDs de Zé Ramalho, Renato Russo, Jackson do Pandeiro, Angela Ro Ro, Golden Boys etc, além de um produzir uma grande coleção de CDs com regravações exclusivas dos álbuns dos Beatles em sua fase madura. Mais de 300 profissionais de música brasileira participaram, entre grandes artistas, bandas, músicos, produtores, técnicos etc. Este ano ainda vamos lançar nossos primeiros DVDs. Continuo também produzindo projetos para outras gravadoras, como as caixas de Gal Costa, Milton Nascimento e Zé Ramalho, que estão em curso no momento.
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