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Marcelo Fróes: o guardião dos acervos 1ª Parte
Vitor Orlando Gagliardo - Jornalista

govitor@yahoo.com.br

Nessa segunda parte, vamos abordar os trabalhos de Fróes fazendo uma viagem em seus 20 anos de carreira. Ele detalha seu interesse por pesquisa, suas alegrias, suas decepções e seus trabalhos com grandes nomes da história da música brasileira.


1. Como surgiu esse interesse de trabalhar com pesquisas?

Talvez tenha vindo no DNA, meu pai também sempre gostou de pesquisas históricas. Os Beatles foram fundamentais na minha formação - pois através deles conheci muita música internacional dos anos 60, 70, 80... inclusive a Bossa Nova (rsrsrsrsr), o que me fez voltar pro Brasil e descobrir Jovem Guarda, MPB, BRock e tudo mais. Fiz um livro sobre os Beatles e conheci seu produtor George Martin e, dois anos depois, quando estava começando meu livro sobre a Jovem Guarda, comecei a fuçar acervos de gravadora para montar a espinha dorsal deste movimento tão mercadológico. Na mesma época estava traduzindo um livro de Martin sobre o "Sgt Pepper" e, ao reencontrá-lo no estúdio da Abbey Road, descobri que ele estava trabalhando nos arquivos da mesma forma que eu começara aqui. Aquilo foi muito estimulante... e em pouco tempo eu estava fazendo projetos com gravações raras e inéditas de Gilberto Gil, Vinicius de Moraes, Nara Leão, Mutantes, Erasmo Carlos, Zé Ramalho, Raimundo Fagner, Ivan Lins, Elza Soares etc. Foram muitos projetos, até o privilégio de trabalhar nos masters de Roberto Carlos para aquelas caixas azuis "Pra Sempre" eu tive, entre 2004 e 2007.


2. Você poderia explicar para nossos leitores, como funciona seu trabalho?

Bem, é um trabalho de pesquisa... e exige paciência, porque música se aprecia em tempo real. E é preciso ter equipamentos para rodar fitas obsoletas... e a confiança de artistas e gravadoras para ter acesso a material tão precioso. Inúmeras vezes flagrei-me ouvindo coisas que com certeza ninguém havia ouvido desde a gravação, e com a certeza de que muito dificilmente alguém ouviria novamente. Hoje eu tenho certeza absoluta disso, porque as gravadoras desfizeram-se de suas espaçosas sedes e os arquivos, que estavam mais a mão, hoje estão encaixotados em depósitos terceirizados à beira de rodovias. Enfim, coisas do mercado.

3. Qual o trabalho foi mais difícil?

Difícil dizer, talvez os primeiros, porque tive que explicar para as gravadoras o que eu pretendia fazer nos acervos. Gilberto Gil foi o primeiro artista a endossar minhas idéias, na época ele dizia que eu seria um "guardião" dessas coisas. Um tempinho depois, vendo o trabalho que eu tinha para convencer as pessoas, Raimundo Fagner disse que eu era um "lobista". Por último, mais recentemente, vendo que trabalho em muitos projetos que não visam lucro, Zé Ramalho começou a dizer que sou um "romântico"!

4. Percebe-se em seu trabalho a variedade de gêneros musicais. É essa a idéia?

Evidente que sim, a música brasileira é a mais rica e variada do mundo. Trabalhei com os mais variados estilos porque gosto de quase tudo que se faz no país e principalmente porque fui convidado para fazer de todo tipo de projeto. Gosto dos desafios.

5. Tem algum trabalho que te decepcionou de alguma forma?

Pra mim foi muito chato fazer uma trilogia de CDs com todas as 52 canções que Raul Seixas fez na época em que era produtor da CBS (1970-1972) e ver os discos serem quebrados porque um advogado pediu uma grana braba para autorizar, caso contrário processaria a gravadora por uso indevido de imagem e blá blá blá. Tive muitos prazeres nestes 20 anos, felizmente... e a única vez que tive problemas foi quando um gerente de gravadora resolveu retirar meu crédito da contracapa de uns discos que eu havia preparado, quando já estava pronto pra sair, argumentando literalmente: "Você não é nenhum Nelson Motta pra ter crédito em contracapa!". Os discos saíram com um vazio absurdo na contracapa, por causa disso, mas este cara já foi extirpado do mercado fonográfico.

6. Quais são os próximos projetos?

Por conta da dificuldade por que atravessa a indústria fonográfica já há alguns anos, e para continuar trabalhando no que gosto e sei fazer, criei o selo Discobertas há 2 anos e já produzi o que tive vontade. Já tive o privilégio de lançar CDs de Zé Ramalho, Renato Russo, Jackson do Pandeiro, Angela Ro Ro, Golden Boys etc, além de um produzir uma grande coleção de CDs com regravações exclusivas dos álbuns dos Beatles em sua fase madura. Mais de 300 profissionais de música brasileira participaram, entre grandes artistas, bandas, músicos, produtores, técnicos etc. Este ano ainda vamos lançar nossos primeiros DVDs. Continuo também produzindo projetos para outras gravadoras, como as caixas de Gal Costa, Milton Nascimento e Zé Ramalho, que estão em curso no momento.

Próximos lançamentos: caixa com os trabalhos de Zé Ramalho


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