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“Vai Carlos, ser gauche na vida!”

Luis Eduardo Souza Costa


“Vai Carlos, ser gauche na vida!”.

O verso famoso de Carlos Drummond de Andrade se aplicaria perfeitamente à trajetória de José Carlos de Amaral Kfouri. Juca, desde sempre.

Formado em Ciências Sociais na USP, Juca Kfouri levou para o jornalismo a mesma inquietação que demonstrou na militância política, desempenhada durante o auge da Ditadura militar, no fim dos anos 60. Por sua postura crítica e independente, arrebanhou inimigos, mas também conquistou uma legião de admiradores, que o tomam como referência na imprensa esportiva. Por esses e outros motivos, segue na luta: “Tenho filhos e netas para olhar nos olhos. Não dá para desistir.”





1. Faltando cerca de dois anos e meio para a Copa de 2014, há, por parte de alguns setores, certo temor de que o evento seja um marco de uma era de elitização do futebol, com as classes populares cada vez mais afastadas dos estádios. Você compartilha dessa visão?

Não apenas compartilho. Infelizmente tenho certeza de que é isso que acontecerá.

2. Como você classificaria atualmente a Copa e as Olimpíadas? Ainda são essencialmente eventos esportivos ou iniciativas empresariais que utilizam o esporte como adereço?

São grandes eventos do capitalismo globalizado.

3. Durante a gestão de Pelé no Ministério dos Esportes, você participou do Conselho Nacional de Esportes, órgão ligado diretamente ao Ministro. Que lição você tirou dessa experiência?

Quase nada, porque fiquei menos de seis meses. Mas deu para perceber que o mundo dos cartolas é tremendamente reacionário, avesso a qualquer mudança, mantenedor de privilégios.

4. Você foi militante de esquerda e cursou Ciências Sociais na USP durante o auge da ditadura militar. Nessa época, para muitos opositores do regime, o futebol era visto como um instrumento de alienação das massas. Experimentou algum tipo de conflito entre a paixão pelo esporte e as suas convicções políticas?


Conflito íntimo, não, porque jamais permiti que a ditadura me roubasse também os sentimentos. Discussões com colegas houve inúmeras.

5. Quando dirigia Placar, você investiu em uma cobertura esportiva diferenciada, focada em grande parte no jornalismo investigativo. Acha que deixou um legado? Em quais veículos ou profissionais você enxerga esse tipo de postura?

Seria pretensioso falar em legado. E nem quero particularizar ou fulanizar. Mas a Folha de S.Paulo, por exemplo, segue por esse caminho há anos. A ESPN-Brasil também.

6. Além de Placar, sua passagem pela Editora Abril também foi marcada pelo trabalho à frente de Playboy. Como foi chefiar duas publicações de grande repercussão, porém de perfis tão distintos?

Foi uma deliciosa experiência entre as peladas...

7. Semanalmente, no programa Linha de Passe, você escolhe os gols da semana. Qual foi o grande gol de Juca Kfouri? As matérias sobre a Máfia da Loteria Esportiva ? Sobre o doping de Mário Sérgio? A descoberta da identidade de Carlos Zéfiro?

Zéfiro, disparado!

8. Você sempre assumiu ser torcedor do Corinthians. Por que esse tipo de atitude, de declarar o clube de preferência, ainda é um tabu entre os jornalistas esportivos?

Pelo medo de violência nos estádios, o que não acontecia quando comecei.

9. Um de seus mais recentes livros é intitulado “Por que não desisto”. Você foi processado inúmeras vezes, além de ter sofrido pressões de toda ordem em função de sua independência. Já pensou algum momento em desistir?

Jamais. Tenho filhos e netas para olhar nos olhos. Tenho amigos. E leitores. E ouvintes e telespectadores. E espelho. Não dá para desistir.

2 comentários:

Anônimo | 27 de dezembro de 2011 às 15:41

sou fã do Juca ... muito boa a entrevista

Anônimo | 27 de dezembro de 2011 às 15:59

embora seja corinhiano assumido, as vezes acho que poderia ser mais imparcial.

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