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“Não é verdade que o autor muda uma trama em decorrência da audiência”.

Claudino Mayer demonstra quais os critérios que autores de novela utilizam na hora de criar a identidade dos assassinos. Esse é o tema central do livro “Quem matou ... o romance policial na telenovela” (Editora Annablume). O autor trabalha basicamente com os três maiores sucessos da teledramaturgia brasileira: ‘O Astro’, ‘Vale Tudo’ e ‘A Próxima Vítima’. Em uma entrevista exclusiva ao Blog Desburocratizando, Claudino conta um pouco mais desse fenômeno chamado novela.

Foto: Julia Chequer


1. Por que há tanta identificação do brasileiro com as novelas?

Porque as telenovelas retratam o dia-a-dia dos brasileiros. Quanto mais fiel ela retratar a realidade mais sucesso a trama terá. A identificação está no personagem, em uma casa, em um emprego, em um grupo de amigos, etc.

2. As novelas retratam temas sociais como alcoolismo, aborto, clonagem entre tantos outros. Como que as telenovelas podem ajudar esses movimentos sociais?

Os movimentos sociais, muitas vezes, não têm apoio dos órgãos competentes nem condições financeiras de fazer publicidade na telenovela. A contribuição da telenovela ao discutir essas questões é trazer para sociedade e aos governantes alternativas para compreender os temas que estão sendo discutidos. Com isso, os movimentos sociais podem receber ajuda do público (doação ou outro tipo de ajuda) e de diversas instituições para poderem desenvolver seus projetos. Como por exemplo, na telenovela Viver a vida, escrita pelo Manoel Carlos. Foi discutido o drama do cadeirante. A discussão, acredito, trouxe um enorme ganho para o cadeirante. Ou seja, se eles fossem reivindicar seus direitos demorariam anos para conseguir. A telenovela ajudou-os a conquistar alguns direitos mais rápido.

3. Há algum tema que o senhor considere de fundamental importância que ainda não tenha sido abordado nas novelas?

É muito difícil dizer qual tema seria considerado mais importante. Acho que todos os temas são importantes. A importância e interesses desses temas variam de acordo com o que está sendo discutido na sociedade na época em que as telenovelas foram exibidas. Que pode corresponder a uma época ou período. Alguns temas ocorrem com freqüência, como por exemplo, droga, alcoolismo, aborto. Esses temas são sempre reiterados por diversos autores em suas tramas. Penso que isso ocorre por falta de mais publicidade falando de alcoolismo, drogas, etc. Ou seja, alguns temas discutidos na telenovela refletem uma época ou período.

4. O livro ‘Quem matou’ aborda os romances policiais e explora três novelas: O astro (1977) de Janete Clair, Vale Tudo (1988) de Gilberto Braga e A Próxima Vítima (1995) de Silvio de Abreu. O que o levou a escolher essas três novelas?

A escolha se deu porque as três telenovelas obtiveram os maiores índices de audiência. E por ter tido bastante repercussão através da mídia e do público. As três telenovelas mobilizaram o Brasil a se perguntar: Quem matou...? Diferentes classes sociais queriam saber quem era o assassino.


5. Fazendo uma cópia de uma pergunta sua descrita na introdução do livro, ‘qual o processo de escolha que envolve determinado personagem como criminoso na construção de uma trama teledramatúrgica’?

A escolha do assassino em telenovela envolve vários fatores: a credibilidade do ator junto ao público e ao autor; se o ator tem empatia e familiaridade com o telespectador. Atores queridos do público não costumam ser assassinos. Refiro-me em telenovelas que trabalha com o quem “Quem matou...?”, principalmente em telenovelas da tevê Globo. O público ao descobrir o assassino por uma questão de audiência o autor não muda o final. Não é verdade que o autor muda uma trama em decorrência da audiência.

6. Por que o público brasileiro se identifica tanto com os romances policiais na telenovela?

Os romances policiais instiga o telespectador a tentar descobrir o criminoso. Quem não gosta de ser um detetive? Na vida real tentamos a todo instante entender os crimes e daí, procuramos descobrir através de conjecturas o criminoso. Tudo é muito fascinante. Os crimes geram comentários na vida cotidiana de qualquer brasileiro.

7. É público a importância da audiência e dos anunciantes para a sobrevivência dos veículos de comunicação. Sendo assim, qual a liberdade que um autor de novela possui para criar, sabendo que mexerá com milhões de brasileiros?

Total liberdade. O autor tem plena liberdade na criação de seus personagens. Quando um personagem não está desempenhando um bom percurso o autor “muda” o percurso do personagem por não está se comunicando bem com o público. Não procede a informação de que os autores de telenovelas mudam suas historias tramas, etc., em decorrência da baixa audiência. O que os autores alteram em suas tramas é a maneira de transmitir sentidos através de suas personagens para que o público entenda o que o autor quis transmitir.

8. Qual o maior desafio de se criar e manter um romance policial na telenovela?

O autor tem que prender a atenção do público ao escrever a cena em que aconteceu o crime. Levar o público a questionar determinados detalhes desse crime. Que pode ser uma conversa, um ato, uma seqüência de atos, uma afirmação ou informação, etc. o autor tem que levar o público ao questionamento. Dar vários suspeitos. Fazer o público refletir, refletir e refletir sobre a cena do crime. Assim, o telespectador irá “encarar” a narrativa do crime como um “desafio”.

9. Por que na maioria das vezes, as pessoas não acertam o verdadeiro assassino?

È muito “difícil” acertar o assassino em telenovela. O critério de escolha por parte dos autores envolve alguns fatores: se a imprensa descobrir o assassino eles mudam. Se o ator tem uma grande empatia junto ao público televisivo, como por exemplo, Glória Menezes, Tarcisio Meira, Tony Ramos, etc. No livro eu aponto outros meios para o público tentar acertar o assassino da telenovela.

10. Entre tantas novelas, qual aquela que melhor desenvolveu um romance policial?

Todas as telenovelas que trouxeram tramas envolvendo romances policiais “Quem matou...?” desempenharam bem suas narrativas. Algumas, claro, tiveram mais repercussão e outras menos. Percebo em algumas telenovelas que os autores conseguiram instigar o telespectador com suas narrativas de crimes. Isso já é bastante significativo porque faz a audiência de suas tramas aumentarem. Ou seja, um crime em telenovela compensa.

2 comentários:

Anônimo | 9 de novembro de 2011 às 00:49

As novelas que vc trabalhou em seu livro são, de fato, bem interessantes. Pena que o nível tenha caído tanto nas últimas produções.

Anônimo | 10 de novembro de 2011 às 21:20

3 ótimas novelas. Vale tudo foi inesquecível.

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