Música
Resenha – Rush, Praça da Apoteose, 10/10/2010
Flavio Bahiana - jornalista
flaviobahiana@gmail.com
Após oito anos o Rush esteve de volta ao Brasil neste último final de semana, com apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro, para a realização da turnê Time Machine, em que o principal destaque é a execução na íntegra do disco de maior sucesso comercial do grupo, o Moving Pictures, lançado em 1980. É difícil saber qual banda começou com este tipo de projeto, mas é uma idéia muito interessante ver grandes artistas tocando todas as faixas de um grande clássico na ordem em que elas estão no disco.
Às 20h em ponto, os três telões, um no centro do palco e os outros nas laterais, começaram a exibir um filme curto que faz brincadeiras com a história da banda, intitulado “Rash: The Real History of Rush”. O vídeo mostra os três integrantes do Rush em um restaurante. Geddy Lee (vocalista, baixista e tecladista) é o barman, Alex Lifeson (guitarrista) um cientista comilão e Neil Peart (baterista) é outro cliente; enquanto que uma banda chamada Rash é a atração do local executando “The Spirit of Radio”. No meio do diálogo aparece uma máquina do tempo, o personagem de Alex Lifeson aperta um botão vermelho por engano e o grupo é transportado para o futuro, o que é a deixa para o Rush entrar no palco e começar o espetáculo executando os primeiros acordes de “The Spirit of Radio”, que faz o público incendiar a Praça da Apoteose.
Na sequência o grupo tocou “Time Stand Still” e “Presto”, que há muitos anos não eram incluídas no set list dos shows. No final desta última, Geddy Lee saudou o público em inglês, dizendo: “Hello, boa noite Rio! Bem vindos Brasil! É um prazer estar de volta. Gostaria de falar melhor o idioma de vocês”. Este foi um dos raros momentos de diálogo com o público. Na sequência, tocaram mais duas músicas que raramente aparecem no set list, “Stick it Out” e a instrumental “Leave That Thing Alone”. Entre elas, “Working` Them Angels”, uma das melhores músicas do último disco de estúdio, Snakes & Arrows, de 2007. Outra grande música deste álbum que foi tocada nesta primeira parte do show foi “Faithless”.
Em seguida, o Rush apresentou a música inédita “BU2B”, que estará presente no disco Clockwork Angels, que será o 19º disco de estúdio do grupo e que deve ser lançado em 2011. A música é pesada e teve como pano de fundo vários efeitos especiais do palco, como fogo, explosões, fumaça e efeitos de luzes. Foi à deixa para a sequência da trinca de grandes clássicos que viria a seguir: “Freewill”, “Marathon” e “Subdivisions”, que voltaram a empolgar o público e que encerrou a primeira parte do show, após 1h10min do início da apresentação. Geddy Lee anunciou o intervalo, que deve uma duração aproximada de 20 minutos.
Antes de começar a tão aguardada segunda parte do show, em que seria executada na íntegra o disco Moving Pictures, um relógio com o ano de 1974 (ano de lançamento do primeiro álbum do Rush), apareceu no telão e fazia uma contagem até o ano de 1980. Quando o relógio chegou neste ano, as luzes se apagaram e mais um vídeo engraçado começou a ser exibido. Desta vez o cenário foi à gravação do videoclipe do grupo Rash para a clássica música “Tom Sawyer”. Geddy Lee desta vez é o diretor e o personagem de Alex Lifeson continua sendo o cientista comilão do primeiro filme, mas desta vez ele aparece também como empresário do grupo. Quando o botão vermelho da máquina do tempo é novamente apertado, começa um clipe do grupo em um fundo branco, tocando a música “Tom Sawyer” e aparecendo os integrantes do Rush em diversas idades e com os instrumentos trocados.
O personagem de Geddy Lee não gosta dos acontecimentos durante a gravação, pede demissão e o empresário comemora o fato de ter assumido o cargo de diretor do videoclipe. A partir daí o Rush entra no palco, começa a executar as primeiras notas de “Tom Sawyer” e levanta o público, que canta junto toda a letra da música junto com Geddy Lee, assim como acontece também no clássico seguinte “Red Barchetta”. Para incendiar de vez a Praça da Apoteose, vem em seguida a instrumental “YYZ”, que é entoada em coro pelo público. O hit “Limelight” vem em seguida, mantendo a empolgação tanto da banda quanto da platéia, o que também acontece nas três músicas “The Camera Eye”, “Witch Hunt” e “Vital Signs”.
A execução na íntegra do Moving Pictures foi perfeita. É incrível os sons que estes três músicos conseguem executar no palco. Geddy Lee impressiona ao tocar, em uma mesma música, o baixo e o sintetizador moog, além de cantar; Alex Lifeson é um grande guitarrista, executando grandes solos e variando instrumentos como o violão de 12 cordas e um violão havaiano; Neil Peart será comentado mais a frente. Parece que estamos ouvindo o disco diretamente das caixas de som presentes em todo o palco.
Logo após a última música do Moving Pictures ser executada, “Vital Signs”, o Rush tocou mais uma música nova, “Caravan”, que assim como “BU2B”, é uma música pesada e que teve a utilização de diversos efeitos especiais do palco, que estava decorado com diversos relógios e válvulas do tempo, que lembravam um pouco a casa do Dr. Emmett Brown, que aparece no início do primeiro filme da trilogia “De Volta para o Futuro” (1985).
Ao final desta música, Geddy Lee e Alex Lifeson deixam o palco, ficando apenas Neil Peart. É a deixa para que se tenha início uma das maiores atrações dos shows do Rush, o solo de bateria. Neil Peart pode ser considerado como o melhor baterista vivo. É inegável a qualidade dele neste instrumento, o que pode ser claramente observado durante a apresentação solo, que durou aproximadamente 10 minutos. As câmeras de filmagem deram um show, captando toda a técnica do baterista bem de perto, tanto em imagens por cima da bateria, quanto nos detalhes, principalmente do bumbo. Durante esta parte, alguns pingos de chuva começaram a cair, mas não durou muito e antes da próxima música o chuvisco já havia passado.
Após o solo, é a vez de Alex Lifeson ficar sozinho no palco e executar uma bela introdução para “Closer to the Heart” em um violão de 12 cordas, enquanto os outros integrantes vão voltando ao palco para a execução deste grande clássico, presente no disco A Farewell to Kings, de 1977. As duas músicas que encerraram a segunda parte do show foram “2112 – Overture / Temple of Syrinx” e “Far Cry”. Geddy Lee chegou a se despedir do público, mas ainda faltavam mais duas canções, a épica e instrumental “La Villa Strangiato” e “Working Man”, que começou diferente da versão de estúdio, com uma levada reggae, para depois obter mais peso nos instrumentos e ter a levada Hard Rock original.
No final, mais um vídeo engraçado. Desta vez com os atores Paul Rudd e Jason Segel, do filme “Eu Te Amo, Cara” (2009), em que eles interpretam dois grandes fãs do Rush. No vídeo, os dois conseguem invadir o camarim do grupo com credenciais falsas e há diálogos muito divertidos entre os atores e os integrantes do Rush.
Após quase três horas de show, 24 músicas e mais um solo de bateria de um dos melhores bateristas da história do rock, o público carioca saiu da Praça da Apoteose feliz e com a certeza de ter presenciado um dos melhores shows de rock da atualidade.
Set list
Parte 1
1. The Spirit of Radio
2. Time Stand Still
3. Presto
4. Stick It Out
5. Workin' Them Angels
6. Leave That Thing Alone
7. Faithless
8. BU2B
9. Freewill
10. Marathon
11. Subdivisions
Parte 2
12. Tom Sawyer
13. Red Barchetta
14. YYZ
15. Limelight
16. The Camera Eye
17. Witch Hunt
18. Vital Signs
19. Caravan
20. Love 4 Sale (Solo Neil Peart)
21. Closer to the Heart
22. 2112 Overture / Temples of Syrinx
23. Far Cry
Bis
24. La Villa Strangiato
25. Working Man
Fotos: G1, Portal Terra, Jamari França
Ouça o podcast do Mofodeu sobre o Moving Pictures: Mofodeu 95
Ouça o podcast da Poeira Zine sobre o Rush: Poeira Cast 22
1 comentários:
eu fui!
nota 10
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