Espiritualidade

Porta estreita (Lc 13,22-30)

Pe. Cleneu Magri - Vigário da Paróquia Sangue de Cristo

desburocratizando@gmail.com


Comentário do evangelho do 21º domingo do tempo comum (22/08).


“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir”.


Na perspectiva da catequese que, hoje, Lucas nos apresenta, as palavras de Jesus são uma reflexão sobre a questão da salvação. A catequese é iniciada por uma questão posta na boca de alguém não identificado: “Senhor, são poucos os que se salvam?”.


A questão da salvação era, na realidade, uma questão muito debatida nos ambientes rabínicos. Para os fariseus da época de Jesus, a “salvação” era uma realidade reservada ao Povo eleito e só a ele; mas, nos círculos apocalípticos, dominava uma visão mais pessimista e sustentava-se que muito poucos estavam destinados à felicidade eterna. Jesus, no entanto, falava de Deus como um Pai cheio de misericórdia, cuja bondade acolhia a todos, especialmente os pobres e os débeis. Fazia, portanto, sentido saber o que pensava Jesus acerca da questão …


Jesus não responde diretamente à pergunta. Para Ele, mais do que falar em números concretos a propósito da “salvação”, é importante definir as condições para pertencer ao “Reino” e estimular nos discípulos a decisão pelo “Reino”. Ora, para Jesus, entrar no “Reino” é, em primeiro lugar, esforçar-se por “entrar pela porta estreita” (vv. 24). A imagem da “porta estreita” é sugestiva para significar a renúncia a uma série de fardos que “engordam” o homem e que o impedem de viver na lógica do “Reino”. Que fardos são esses? A título de exemplo, poderíamos citar o egoísmo, o orgulho, a riqueza, a ambição, o desejo de poder e de domínio … Tudo aquilo que impede o homem de embarcar numa lógica de serviço, de entrega, de amor, de partilha, de dom da vida, impede a adesão ao “Reino”. Para explicitar melhor o ensinamento acerca da entrada do “Reino”, Lucas põe na boca de Jesus uma parábola. Nela, o “Reino” é descrito na linha da tradição judaica, como um banquete em que os eleitos estarão lado a lado com os patriarcas e os profetas (vv. 25-29).


Quem se sentará à mesa do “Reino”? Todos aqueles que acolheram o convite de Jesus à salvação aderiram ao seu projeto e aceitarem viver, no seguimento de Jesus, uma vida de doação, de amor e de serviço… Não haverá qualquer critério baseado na raça, na geografia, nos laços étnicos, que barre a entrada no banquete do “Reino”: a única coisa verdadeiramente decisiva é a adesão a Jesus. Quanto àqueles que não acolheram a proposta de Jesus: esses ficarão, logicamente, fora do banquete do “Reino”, ainda que se considerem muito santos e tenham pertencido, institucionalmente, ao Povo eleito. É evidente que Jesus está falando para os judeus e a sugerir que não é pelo fato de pertencerem a Israel que têm assegurada a entrada no “Reino”; mas a parábola aplica-se igualmente aos “discípulos” que, na vida real, não quiserem despir-se do orgulho, do egoísmo, da ambição, para percorrer, com Jesus, o caminho do amor e do dom da vida.

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